Folha de S. Paulo


Nem na ditadura garotos eram algemados como em Miracema

Juliana Freire
Algemaram os garotos em Miracema

Há mais de um ano a rotina das prisões de larápios do andar de cima cumpre um protocolo. Contornando o constrangimento das algemas, os presos aceitam caminhar com as mãos cruzadas às costas. Há duas semanas foi preso em Palmas o ex-governador do Estado de Tocantins, doutor Sandoval Cardoso, e a polícia escoltou-o até o Instituto Médico Legal. Ele não foi algemado, porque no mundo dos marmanjos do andar de cima as coisas funcionam assim.

Em Miracema, cidade a 78 km de Palmas, a PM algemou estudantes que haviam ocupado uma escola. Segundo o Ministério Público, o promotor ordenou que dois jovens fossem algemados porque resistiam à ação da polícia. Uma universitária que participava da invasão disse que foi algemada com um menor de 15 anos.

Segundo o Ministério Publico, a escola foi invadida com o apoio de pessoas estranhas. Há orquestração nas ocupações de pelo menos 752 escolas e 14 universidades, mas os encarregados da manutenção da ordem precisam entender que o problema adquiriu uma nova dimensão. Nela, algemando-se estudantes joga-se gasolina na fogueira. Em 2013, foi a truculência da polícia de São Paulo que levou o Brasil para a rua.

Algemaram os garotos numa semana em que o presidente do Senado chamou um magistrado de "juizeco", a presidente do Supremo Tribunal Federal disse que não tinha horário livre para uma reunião com o presidente da República e o ministro Teori Zavascki suspendeu uma investigação impertinente ordenada pelo magistrado que o senador chamou de "juizeco".

Os mecanismos de protesto e manipulação que resultaram na ocupação das escolas foram disparados pela bagunça dos adultos poderosos de Brasília. O presidente Michel Temer, que se apresentou ao país como um "pacificador", resolveu reformar o ensino médio do país editando uma Medida Provisória. Nem durante a ditadura aconteciam coisas assim.


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