Folha de S. Paulo


Bondinho leva carioca da Van Cleef de Mônaco ao colapso do serviço público

Tomaz Silva/Agência Brasil
A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, visita o Teleférico do Alemão, zona norte do Rio. (Tomaz Silva/Agência Brasil)
O teleférico do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro

A ruína do Rio de Janeiro deveria colocar o governo federal em estado de alerta. A cidade vive o colapso de seu aparelho de segurança e do sistema público de saúde. Só um milagre fiscal permitirá o pagamento do 13º salário aos servidores e há escolas fechadas, hospitais mutilados e delegacias sem luz elétrica. O teleférico do Alemão está parado. Era o símbolo do Brasil de Lula e da gestão modernizadora de Sérgio Cabral. As barcas cortaram viagens e a plutocracia dos ônibus não paga as multas que recebe. No meio desse caos, o empreiteiro Fernando Cavendish, queridinho do governo do Estado e da prefeitura, contou que, em 2009, pagou o equivalente a R$ 800 mil na joalheria Van Cleef de Mônaco para enfeitar madame Sérgio Cabral. (Madame Eduardo Cunha comprava seus enfeites na Tiffany de Nova York.)

O Rio sofre os efeitos de pelo menos cinco pragas.

1) Os dois governos de Sérgio Cabral e a chegada de Pezão.

2) O PMDB do Rio de Janeiro, partido de Cabral, Pezão, do prefeito Eduardo Paes, do deputado Jorge Picciani e de seu filho Leonardo, ministro de Michel Temer. Todos foram fiéis aliados de Eduardo Cunha.

3) A gastança irresponsável e clientelista que expandiu em 50% as despesas com servidores em apenas cinco anos. Gastaram o que não tinham e venderam a doce ilusão da Olimpíada do Rio. Da sua pira haveria de sair a candidatura de Eduardo Paes a governador ou, quem sabe, presidente da República.

4) A roubalheira nas licitações de obras públicas foi tamanha que, só em 2011, dois anos depois da compra do mimo para madame Cabral, a Delta de Fernando Cavendish ganhou R$ 137 milhões em obras, sem o estorvo das licitações. Sua carteira de negócios com o governo ia a R$ 1 bilhão.

5) A quinta praga chamou-se privataria. Cabral e Paes venderam a ideia segundo a qual uma nova forma de gestão mudaria a cara do Rio. Transferiram serviços públicos para empresas privadas. A operação do teleférico do Alemão ficou com a Odebrecht e acabou na empresa do filho do presidente do Tribunal de Contas da União. Privatizações não levam necessariamente a desastres, mas a gestão privatista do PMDB do Rio não podia acabar em outra coisa.

Da praça do Cassino, onde fica a Van Cleef de Monte Carlo, à praça das Nações, de Bonsucesso, onde fica a estação de partida do teleférico do Alemão, viaja-se num bondinho que mostra a mistificação e as roubalheiras que infelicitam a cidade.


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