Folha de S. Paulo


Zwi Skornicki internacionalizou a Operação Lava Jato

Desde julho passado, o engenheiro Zwi Skornicki vem contando suas traficâncias com a Petrobras aos procuradores da Operação Lava Jato. Seus depoimentos internacionalizaram o escândalo, dando nome aos bois. Zwi era conhecido no mundo do petróleo por ser o poderoso representante dos estaleiros Keppel Fels, de Cingapura. Uma figura inesquecível para os peões que o viam circulando nas oficinas com um Rolex cravejado de brilhantes. Ficou famoso quando a Policia Federal mostrou a casa cinematográfica que tinha em Angra dos Reis e a coleção de 12 carros que guardava em seu sítio (três Porsches e duas Ferraris).

A Keppel é um gigante da indústria naval, controlando 22 estaleiros em vários continentes, inclusive no Brasil. Seus contratos com a Petrobras chegaram a US$ 6 bilhões, e Zwi distribuiu dezenas de milhões de dólares em propinas, irrigando contas de petrolarápios, comissários petistas e do marqueteiro João Santana.

Até aí, Skornicki seria apenas mais um personagem da Lava Jato, mas ele abriu a caixa-preta das operações internacionais. Todos, repetindo, todos os seus acertos foram submetidos à diretoria da Keppel em Cingapura. Ele tinha escritório na filial brasileira da empresa, continuou frequentando-o depois de sua condução coercitiva à Policia Federal, em 2015 e, segundo acredita, suas salas continuam lá. O engenheiro não era um operador vulgar: "Eu era o único representante mundial da Keppel que participava de reuniões internas de estratégias de mercado da empresa".

Juliana Freire
Ilustração 21.ago.2016 gaspari

Nas suas palavras, quando lhe pediram 0,7% no contrato de US$ 650 milhões da plataforma P-51 e 0,6% na encomenda de US$ 700 milhões da P-52, ele foi a Cingapura e "sempre" levou o recado: "Deixei claro que seria propina" e "foi aceito". O mesmo se deu com outras negociações. Quando Pedro Barusco pediu uma lasca de 1,2% no contrato da plataforma P-56, os diretores de Cingapura pechincharam e ofereceram 0,9%.

Até hoje a petrorroubalheira tinha um jeito de jabuticaba. Sabia-se das traficâncias dos holandeses da SBM, mas eles conseguiram sair de fininho, pagando uma multa. Estimulado por perguntas de seus advogados, Skornicki apontou para o comando da Keppel. Primeiro, o do seu principal executivo no Brasil, Tay Kim Hock, figura conhecida na noite de Copacabana e nos campos de golfe do Rio. Ele deixou a empresa em 2012. Skornicki arrolou quatro outros diretores da Keppel, entre eles Choo Chiau Beng, principal executivo do conglomerado até 2014.

Há dois anos, quando Skornicki foi levado para depor a Polícia Federal, a Keppel informou que nada tinha a ver com ele. Lorota, tanto que ele continuou utilizando sua sala na empresa. Seu contrato com a Keppel até hoje não foi cancelado.

Para os críticos do instituto da colaboração vai a lembrança de que Skornicki falou só graças a ela, para se livrar de uma pena severa. Pelo baralho velho e viciado, ele seria apenas um empreendedor, a Keppel teria padrões rígidos de combate à corrupção e a Viúva ficaria com o mico. Pelo baralho novo, Skornicki contou o que fez e uma parte do que sabe, aceitou pagar uma multa de US$ 24 milhões. Ele seria liberado neste mês, com direito a seis meses de tornozeleira em casa, mais três anos e meio de serviços comunitários.

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