Folha de S. Paulo


Dilma adversária de Dilma

A presidente Dilma Rousseff tem um imenso desafio no segundo mandato: depois de vencer a eleição, ela precisa vencer ela mesma, a sua teimosia, o seu excesso de certezas, o seu autoritarismo.

Fim da campanha, é hora de Dilma anunciar seu ministro da Fazenda, escolher sua equipe, traçar a estratégia para tirar a economia do profundo buraco que ela própria abriu.

Só depois disso ela poderá reconstituir os laços e tentar recuperar a confiança dos setores produtivos, financeiros e acadêmicos. Negociar com partidos é exaustivo, mas sabe-se o preço. Atrair e segurar investimentos é bem mais complicado, e sabe-se o resultado.

No primeiro mandato, Dilma foi ministra da Fazenda, do Desenvolvimento, das Relações Exteriores, da Defesa, das Minas e Energia, além de presidente do Banco Central. Cercada de ministros obscuros, inseguros, ela pôde exercitar à vontade sua autoridade e imprimir sua visão de mundo no governo, uma visão sobretudo intervencionista.

Ninguém muda na idade de Dilma e com o poder de Dilma, mas se ela continuar exatamente como foi, a economia não vai sair do lugar, o crescimento continuará um vexame, as contas públicas fora de controle, a inflação no teto da meta ou até acima dele, as contas externas desequilibradas.

Quem sofre com isso não são os mais ricos, os mais escolarizados. Não são as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Não é São Paulo, onde ela perdeu feio. Quem sofre são os mais pobres, que Dilma julga salvar com programas pontuais. O buraco da economia e a estagflação tragam primeiro os mais vulneráveis.

Toda a sorte do mundo para Dilma no segundo mandato, mas que ela saiba ouvir mais —principalmente o seu padrinho Lula— e que pare de achar que sabe tudo e que só ela sabe tudo.


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