Folha de S. Paulo


Bicheiros, doleiros e amigões

BRASÍLIA - O que André Vargas e Demóstenes Torres têm em comum?

Demóstenes, procurador que virou senador do DEM e arauto da moralidade no Congresso, era amigão do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso na operação Monte Carlo da Polícia Federal. André Vargas, vice-presidente da Câmara que foi secretário de Comunicação do PT, é amigão do doleiro Alberto Youssef, preso pela operação Lava a Jato da mesma PF.

Demóstenes começou a cair por causa de um fogão e uma geladeira que ganhara de presente de casamento do amigão bicheiro. André Vargas, famoso depois de levantar o punho em desacato ao presidente do Supremo numa sessão na Câmara, caiu por pedir emprestado o avião do amigão doleiro para passear.

O fogão de Demóstenes esquentou e a geladeira não esfriou as apurações da PF e da imprensa sobre as relações perigosíssimas entre o senador e o bicheiro, que incluíam centenas de ligações telefônicas, um celular antigrampo e bons serviços prestados pelo político ao amigão no Executivo, no Judiciário e no Legislativo. Já o avião emprestado para Vargas pousou em mensagens, divulgadas pela revista "Veja", em que o deputado e seu amigão discutiam como tirar vantagem do Ministério da Saúde –logo da Saúde?!– e conquistar "independência financeira".

Demóstenes esperneou até virar pó na política. Vargas produziu cenas vexaminosas, subindo à tribuna para dizer que pedir avião emprestado (não se pede nem carro...) foi uma mera "imprudência". Ontem, ele pediu licença do mandato e da vice-presidência da Câmara, o que é um passo para a renúncia.

A desgraça de André Vargas poderá ou não respingar sobre as campanhas do PT no Paraná, mas certamente irá influenciar a eleição para a presidência da Câmara em 2015.

Sem o petista Vargas na disputa, o pemedebista Eduardo Cunha –espinho no sapato de Dilma– passa a liderar todas as apostas em Brasília.


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