Folha de S. Paulo


Disputas de morte no poder

A ruptura estridente entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Antonio Carlos Magalhães muda a corrida presidencial no campo conservador. Está em jogo o nome que encabeçará a chapa da aliança oficial. O grupo está no poder desde 95 e foi responsável pelo aprofundamento do modelo econômico implantado em 90 por Collor.
As eleições no Congresso indicaram a preferência presidencial pela dobradinha Serra/PMDB para 2002. O outro lado saiu atirando. Tasso Jereissati insinuou uma dissidência no PSDB. Advogado do governador cearense, ACM quebrou os pratos e ameaça jogar mais lama no governo FHC.
O senador baiano faz um jogo arriscado. Partiu para o tudo ou nada ao verificar o estreitamento de seu espaço no grupo governista. Deve ser a única forma de tentar traçar um caminho próprio para interferir nas próximas eleições -apostando, mais tarde, em Tasso, Ciro Gomes ou nele próprio. Quem sabe?
Não se sabe até onde irão as promessas de denúncias feitas por ACM. Ele diz que o presidente acoberta roubos no governo. Não é uma acusação banal. É grave. O Planalto reage demitindo ministros carlistas. Insinua que o senador, em decadência política, perdeu o juízo.
Como sempre faz em momentos de crise, o governo alinhava retalhos de planos para tentar demonstrar controle da situação. No Congresso, já organizou sua "blindagem" política, contando até com o PT. É provável que abafe qualquer movimento pela investigação da névoa que envolve campanha eleitoral, negócios de assessores e desvio de verbas públicas.
Se a "blindagem" tende a funcionar no Parlamento, o governo poderá enfrentar dificuldades em âmbito maior. Apesar dos dados econômicos positivos divulgados neste ano, é difícil prever como estará o país durante a próxima campanha presidencial.
A economia norte-americana é a principal incógnita. A recessão virá, não se sabe com que intensidade, nem por quanto tempo. O Japão, estagnado há dez anos, já foi rebaixado e não deve compensar o baque nos EUA. Como o Brasil ficou mais dependente do exterior, preocupam as turbulências não só na Argentina, mas também na longínqua Turquia.
Internamente, os excelentes balanços do mundo financeiro contrastam com a queda na renda dos salários. A venda de carros vai bem, mas o comércio de produtos de consumo popular está travado. O PCC assusta e mostra o descontrole do Estado sobre a crise na sociedade.
Uma nova safra de promessas acontecerá. O discurso oficial dará ênfase ao "social". Só que a chave do cofre e os botões da economia permanecem sob o controle do ministro Pedro Malan. Não se sabe se ele -que não se declara candidato- vai aceitar dar uma mãozinha para o seu rival Serra e soltar algumas amarras da economia.
A decisão de manter os juros congelados indica que essa vai ser outra guerra feia dentro do círculo do poder. Sempre dividida, a oposição assiste de camarote. Vai deixar suas brigas para o pós-ACM, que ainda não se sabe o que vai ser nem no que vai dar. É preciso o Carnaval passar.


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