Folha de S. Paulo


Um quarto de século

São Paulo - Há 25 anos, em meados de abril, os vietcongs preparavam o ataque final a Saigon. A Guerra do Vietnã acabaria no final do mês com um saldo de 3,5 milhões de mortos. Nos Estados Unidos, longe da selva tropical, o conflito já deixara marcas na política, na economia e na cultura.
Um presidente tinha renunciado sob ameaça de impeachment. A economia vivera o seu maior ciclo de riqueza até então. No bojo do movimento pacifista, hordas juvenis inventaram música, poesia, um novo comportamento e agiram contra o poder estabelecido.
Neste final de abril, os EUA vivem novo período de efervescência. A economia já bateu o recorde de crescimento do período da Guerra do Vietnã. Um punhado de jovens se transformou em magnatas mergulhando na Internet e rompendo padrões tradicionais de sucesso.
Em meio a essa bonança (que pode ruir logo), outro punhado de jovens articula, de novo, protestos contra o poder. Poder aí é entendido como a "globalização", o "FMI", os "transgênicos". Surgem dezenas de slogans "anti alguma coisa" -especialmente anti-EUA. Alguns já dizem que essas ações lembram as da época do Vietnã.
Aqui na América Latina também há paralelos a fazer. Há 25 anos a região estava amarrada a regimes militares e ensaiava um crescimento inconstante. Depois, com a redemocratização, os países abraçaram o modelo neoliberal com promessas de estabilidade.
O fosso social cresceu dentro desses países e entre a região e o hemisfério rico. Agora, simultaneamente aos protestos em Washington, pipocam manifestações aqui no sul. A última onda começou no Equador e acabou em derrubada de governo.
Na semana passada, explodiu na Bolívia uma revolta contra a privatização do sistema de água, que resultou em mortes e estado de sítio -desafiado por manifestações públicas. No Peru, a ameaça de rebelião -e a pressão dos EUA- arrancou o segundo turno nas eleições e encurralou Fujimori.
Por aqui, nossa alardeada cordialidade assiste a tudo pela TV. Vamos ver daqui a 25 anos.


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