Folha de S. Paulo


De ficar horrorizado

São Paulo - Abre aspas. O Fundo Monetário Internacional agravou as recessões asiáticas, tornando-as mais profundas, longas e difíceis. O remédio da austeridade fiscal estava errado e solapou o tecido social da região.
Os técnicos do fundo frequentemente utilizam modelos matemáticos falhos e desatualizados. Eles são estudantes de terceira categoria de universidades de primeira categoria. Não dão importância a instituições, história, distribuição de renda.
Em tese, o FMI apóia as instituições democráticas dos países que auxilia. Na prática, ele enfraquece o processo democrático dos países com sua imposição de políticas. Muitas vezes, seus membros dispensam completamente a fantasia da transparência e negociam pactos secretos. Fecha aspas.
As frases acima não são de nenhuma brochura de esquerda. Foram escritas por Joseph Stiglitz, economista norte-americano que já foi vice-presidente do Banco Mundial e assessor econômico da Presidência dos EUA. Em artigo publicado ontem na Folha ele conta como vivenciou discussões dentro dos organismos internacionais e se confessa simplesmente horrorizado.
Stiglitz relata que o FMI e o Departamento do Tesouro dos EUA andam de mãos dadas. Angustiado, pergunta até que ponto essas duas instituições "impuseram políticas que, na realidade, contribuíram para intensificar a volatilidade global".
Ele se refere à liberalização dos mercados financeiros patrocinada por Washington e que lançou capitais especulativos pelos países da periferia. O Brasil, como se sabe, foi um dos que entraram na onda e paga até hoje muito caro por isso.
No final, ele sugere o que todos conhecem: que as políticas do FMI beneficiam os interesses financeiros dos EUA. Pena que o economista não trate especificamente do Brasil. Mas isso, como se sabe, Pedro Malan explica muito bem. Para o FMI nos EUA. Afinal, o ministro nem tem as angústias e os horrores do conquistador Stiglitz.


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