Folha de S. Paulo


Dolarização é plano B?

São Paulo - A maior parte das análises sobre a crise mundial aponta para a tendência de aumento do protecionismo. Os países devastados pela fuga dos capitais voadores devem repensar o modelo de abertura irrestrita (comercial e financeira) e tratar de diminuir sua dependência externa.
Esse seria um movimento natural de defesa, depois que o dinheiro, atraído pelos juros astronômicos, escapou e deixou déficits para os cidadãos engolirem. Para tentar impedir que esse raciocínio prolifere, as autoridades norte-americanas voltaram a enfatizar a "inevitabilidade" de a América Latina seguir a trilha da Alca (o "livre mercado" no continente) e da dolarização.
Como sempre acontece em épocas de turbulência econômica, o prejuízo não é repartido de forma homogênea: as perdas pesam mais sobre os mais fracos, e os mais fortes podem sair até ganhando. Basta observar o exuberante crescimento do PIB dos EUA (4,5% no último trimestre), quando mais de um terço do globo está em recessão.
Nesse quadro, para ampliar as chances de ganho, é preciso conquistar novos consumidores e lutar contra o fechamento das economias. A preferência é por mercados confiáveis, que garantam resultados, sem os solavancos das moedas fracas.
Daí ressurge a idéia de dolarizar. A base da proposta é a fórmula inglesa desenvolvida para uso em suas colônias. Hoje, pode significar a simples troca do real pelo dólar ou a limitação do volume de dinheiro do país a reservas em moeda norte-americana, como já faz a Argentina.
Os defensores do sistema prometem vantagens: queda nos juros e crescimento. Afinal, se a moeda é o dólar, os capitais viriam sem medo. Os adversários enxergam no projeto a perda de soberania. O país viveria ao sabor das entradas de capital, sem nenhum poder sobre o dinheiro em circulação.
Parece conversa delirante. Mas, depois da crise do real (e do Mercosul), os EUA voltaram a pressionar pela implantação da Alca. Que pode ser a ante-sala da dolarização. Que pode ser um plano B pós-Real.


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