Folha de S. Paulo


De cabeça para baixo

São Paulo - O procurador-geral da República, o responsável pela proteção do patrimônio público, faz turismo com a família usando jatinho da FAB. Passa dez dias no arquipélago de Fernando de Noronha em acomodações da Aeronáutica.
Outros ministros fazem o mesmo. Escolhem o mesmo destino paradisíaco, uma espécie de "ilha de Caras" do tucanato. Os cofres públicos só recebem algo em ressarcimento quando o passeio, custeado pelo contribuinte, é descoberto e pode significar constrangimento público para o Planalto.
O Banco Central, o guardião da moeda, torra dólares para socorrer bancos quebrados. Alega ter agido por causa de uma carta -que foi armada só depois de a operação acontecer. Ao mesmo tempo, viabiliza uma das maiores farras financeiras privadas de que se tem notícia.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social esquece seu nome e organiza um meganegócio para abrir uma torneira de dinheiro público para as grandes empresas que perderam com a maxidesvalorização. O capitalismo, mais uma vez, não pode trazer riscos para os que têm poder.
Um auxiliar de enfermagem, responsável por cuidar de vidas, confessa assassinatos em série em pleno hospital no Rio. Usava injeções de cloreto de potássio ou simplesmente tirava o oxigênio dos pacientes. Diz que matava "por pena" e por "problema econômico". Recebia dinheiro de funerárias.
A Otan declara uma "guerra humanitária", mas seus mísseis atingem bairros civis, um hospital, uma feira, comboios de refugiados. Não se sabe onde foi parar a eficiência do alardeado ataque cirúrgico liderado pelos Estados Unidos.
Iugoslávia, Rio, Brasília, Fernando de Noronha. Lugares com histórias escabrosas, com personagens atuando em papéis de ponta-cabeça. O privado assalta o público e ainda faz festa. Salvadores de vidas promovem mortes por "boas causas". Falta muita indignação, você não acha?


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