Folha de S. Paulo


O pânico de cada um

São Paulo - Demósthenes Madureira de Pinho Neto, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, jogou pesado na CPI. Disse que o país corria o risco de entrar em moratória (!) caso não efetuasse o socorro à dupla Marka-FonteCindam.
Não pela importância relativa dos bancos, mas porque uma quebra naquele momento de pânico poderia desencadear uma reação no mercado financeiro que levaria o país ao colapso. Demósthenes ilustrou seu depoimento lembrando da crise de 1929 nos Estados Unidos.
Naquela época, o governo hesitou em intervir, e a quebradeira arrastou 11 mil instituições. Os EUA entraram em depressão e só saíram dela quando o Estado resolveu gastar (é claro que o início da Segunda Guerra Mundial também ajudou a impulsionar a economia norte-americana).
Foi esse o quadro catastrófico -com moratória (!)- que o ex-diretor do BC pintou para os senadores. (Se era assim e estávamos à beira do abismo, não dá para entender, de novo, como o ministro da Fazenda não soube das decisões tomadas naquelas horas que abalaram o Real. Talvez ele não tenha entrado no jogo de pânico.)
Já que Demósthenes citou os Estados Unidos, é bom rememorar que lá o Federal Reserve não está disposto a subsidiar bancos falidos. Em 98, o rombo de um megafundo foi resolvido entre instituições privadas. Sem falar no caso do inglês secular Barings, que simplesmente quebrou chorando por ajuda oficial. Sem pânico no mercado.
Aqui se argumenta sempre com o pânico. Foi assim também quando do anúncio do Proer, no final de uma noite de sexta-feira. O hospital para bancos apodrecidos foi criado sob o argumento de evitar uma crise bancária. Consumiu R$ 20 bilhões.
Em outras situações não aparece o raciocínio oficial sobre o pânico. Não há correria, por exemplo, quando se forma uma fila de 50 mil desempregados disputando salário de R$ 136,00. Não há emergência. Só existe a lembrança dos tempos recessivos nos EUA dos anos 30.


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