Folha de S. Paulo


Chega de guerra

São Paulo - Já faz um mês que começou a guerra na Iugoslávia. As imagens são brutais: corpos mutilados, crianças feridas, casas, pontes e trens bombardeados como em jogos de videogame. Há choro compulsivo, desespero, olhar de desamparo.
Tudo ocorre longe, do lado pobre da Europa. Atinge a turma que insiste em tentar pular para a parte rica. A guerra, agora, trata de reforçar o cordão de isolamento e empurrar esse pessoal para a vala da destruição.
No início, quase ninguém reclamou. Como já é de praxe desde o fim da URSS, a ação coordenada pelos EUA recebeu apoio da maior parte dos países -Brasil incluído. A propaganda alardeava que os ataques seriam rápidos, cirúrgicos e eficientes para dobrar o governo de Belgrado.
Nada disso ocorreu. Pelo contrário, civis foram assassinados, e o êxodo dos kosovares -o motivo oficial da operação- se multiplicou. A morte cresceu dos dois lados, e o presidente iugoslavo conseguiu internamente revigorar o nacionalismo.
A Otan está reunida em Washington. Comemora os seus 50 anos e, na prática, sacramenta o fim da ONU. Como ficou claro nesse último mês, o poder mundial mesmo está na mão da Otan, digo, dos EUA. E quase nenhum governo ousa chiar.
Resta saber como vão reagir as populações dos países cujos governos se curvaram a esse monolito militar. Na Grã-Bretanha, na Itália e até nos Estados Unidos já começam a se esboçar manifestações pedindo pela paz.
Parecem movimentos saídos de álbuns antigos de fotografias. Lembram as passeatas contra a Segunda Guerra ou a Guerra do Vietnã. Ou fantasmas do início do século, quando o capitalismo ainda precisava de guerras para se rearranjar.
Agora, parecia, a guerra econômica havia acabado, e o vencedor não precisava mais sacar suas armas. Mas as imagens desse último mês avisam que a história não é tão simples assim.


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