Folha de S. Paulo


Escárnio

São Paulo - Foi espantoso. O ex-presidente do Banco Central se recusou a assinar documento atestando que falaria a verdade à CPI. Deixou os senadores perplexos e acabou sendo preso. A "verdade inteira" que os advogados de Chico Lopes prometeram que ele contaria ao Senado era essa: ele não pode falar a verdade.
A cena já entrou para a história. Um dos homens mais importantes do governo nos últimos anos recebeu o famoso "teje preso". Um homem que há poucas semanas jantava com o presidente da República e era o supremo defensor da moeda nacional.
É verdade que, nos últimos dias, Chico Lopes foi jogado ao leões pelo governo. Mas isso só aconteceu depois que surgiu o bilhete revelando a conta de US$ 1,67 milhão no exterior. Até então Lopes recebia elogios e manifestações de solidariedade.
O presidente da República foi o primeiro a sair em sua defesa. Declarou que a operação de socorro ao Marka poderia ter sido um erro, mas descartou a hipótese de má-fé. Depois, FHC criticou o trabalho dos procuradores e tratou de articular uma "operação abafa" na CPI.
Agora, Chico Lopes protagonizou um espetáculo de escárnio. Orientado por seus advogados, ele parecia tranquilo e não se alterou quando recebeu voz de prisão. Interpretou um papel de olho nas suas complicações na Justiça e jogou para longe as consequências políticas de seus atos. Afinal, fora abandonado pelo governo.
Com sua atitude, complicou a vida política desse governo. Quem agora vai explicar a doação de dinheiro para bancos quebrados? Havia um esquema de venda de informações no Banco Central? Por que bancos trocaram de posição poucas horas antes da máxi e lucraram como nunca?
Se Chico Lopes se mantiver calado e a CPI resolver tirar essa história a limpo, é preciso que o ministro Pedro Malan, que foi chefe de Lopes, conte o que ocorreu. Assim se poderá saber a "verdade inteira". O resto é "operação abafa".


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