Folha de S. Paulo


Dinheiro público para poucos

São Paulo - Estudo divulgado em Washington pelo Banco Mundial mostra que, em quatro meses (do último outubro eleitoral até o janeiro cambial), quase metade da população que tinha conseguido melhorar de vida nos quatro anos de Real já voltou a ficar embaixo da linha de pobreza.
Na definição técnica, estão nessa faixa os que sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. Até a reeleição que alardeava o "Avança Brasil", pertenciam a esse grupo estatístico 30 milhões de brasileiros. Depois do voto, caíram nesse buraco social 4 milhões de pessoas. Até o janeiro. Até o janeiro da desastrada máxi e da doação de dólares a bancos.
Depois de janeiro, o desemprego saltou para 20% na Grande São Paulo, e o governo passou a prever uma queda de 4% do PIB. Segundo o Banco Mundial, a cada recuo de 1% no PIB, de 600 mil a 1 milhão de pessoas desabam para o universo dos pobres.
O próprio presidente do banco diz temer turbulências no país e pede mais gastos oficiais no social. Motivo: no Brasil, a enorme concentração de renda torna mais agudo o custo da recessão para a maioria "sem nada".
Surpreendentemente, nesse quadro de descalabro, o governo acaba de anunciar uma megaoperação para socorrer 90 empresas que estão com dificuldades pós-máxi. São grupos que se endividaram lá fora contando com juros baratos e moeda estável.
Depois do colapso do real, contabilizando perdas, batem à porta do governo para ressuscitar a operação hospital do velho BNDES da época do autoritarismo. E parecem conseguir, na virada do século, mais uma reedição da socialização dos prejuízos.
Até braço financeiro do Banco Mundial fez ressalvas à operação, lembrando que o papel do governo não é o de dar subsídios a empresas privadas, mas sim o de garantir saúde e educação. Palavra de Washington.
Por aqui, a massa que vive abaixo da linha da pobreza segue crescendo, e o dinheiro público continua sendo escoado para muito poucos. Cacciola e seus amigos que o digam.


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