Folha de S. Paulo


Crise existencial

São Paulo - A economia mundial vai crescer neste ano a metade do que em 97. Uma recuperação de fôlego só deve acontecer daqui a três anos. Tudo por causa da depressão em que mergulharam os países asiáticos e que já se reflete nos outros continentes.
A previsão, anunciada na última semana, por um instituto britânico, parece apontar para um novo movimento pendular do capitalismo. Sempre oscilando entre períodos de crescimento e de recessão, o sistema deve mudar de século em fase de baixa.
Além de afundar os números da produção planetária, a crise da Ásia está colocando em xeque o receituário alardeado pelo comitê central do sistema, em Washington. É esse o contexto das idéias do vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, apresentadas no Mais! de hoje.
Do alto de sua janela no centro do poder do mundo, Stiglitz questiona os dogmas que foram vendidos para os países pobres. Ele ataca a política obsessiva de combate à inflação, a privatização selvagem e o conceito de Estado minimalista.
Não é pouca coisa. Sobre esses pilares, tidos como inexoráveis, foram construídos grupos de poder. Vários países se voltaram para essa alardeada modernidade. Houve estabilidade e aumento das diferenças sociais.
Agora, como se estivesse numa sessão de análise, o porta-voz do sistema faz uma regressão e aponta problemas de desigualdade, de desemprego. Assume que o mundo não era tão perfeito como imaginara. Parece cair em depressão e passa a elogiar... a China!
Estado forte, privatização controlada e inflação deixam de ser palavrões para Stiglitz. Ele diz que não está provado que governos são piores que mercados. E defende um certo aumento de preços para melhorar a economia.
Afirma que a estatizada China é a maior história de sucesso em décadas. Como? Stiglitz será mais um adepto da tese "esqueçam o que eu escrevi e mandei fazer"? Ou apenas um sujeito falando de crise existencial?


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