Folha de S. Paulo


Haverá um Real 2?

São Paulo - O governo nem quer ouvir a pergunta acima. Desconversa cada vez que o assunto aparece. Nega que esteja planejando qualquer ajuste pós-eleição. Rejeita a hipótese de repetir o que houve com o Cruzado 2, em novembro de 86.
Naquele mês, logo depois que as urnas foram apuradas e ficou constatada a vitória do governo, um pacotaço caiu sobre a cabeça dos brasileiros. O Cruzado, que era apresentado como um plano maravilhoso, mostrou sua cara feia e passou a cobrar sua conta.
Será que a história vai se repetir neste ano? O FMI sugere que sim. Pelo menos foi o que afirmou, na sexta-feira, em Brasília, o diretor de Assuntos Fiscais do fundo, Vito Tanzi. Ele enxerga falhas no Real e advoga um ajuste rápido nas contas públicas.
"Quanto mais cedo fizer, melhor. Se não puder fazer nos próximos meses, por razões eleitorais, deveria fazer imediatamente depois das eleições", declarou Tanzi, sem rodeios.
O conselho de Tanzi é provocado pela preocupação com o aumento do déficit em conta corrente, o que obriga o país a buscar dinheiro no exterior para sobreviver. Ele teme que um novo solavanco na Ásia feche a torneira externa. Por isso, acha que é preciso agir rápido contra catástrofes futuras.
Tanzi receita o corte de gastos, descartando alta de impostos, porque o país já tem a maior carga tributária da América Latina. Em 86, o Cruzado 2 foi baseado em aumento de impostos e de preços. O objetivo era conter o consumo e esfriar a economia.
Agora a história é bem diferente. A economia está fria, e o crescimento, contido pela armadilha cambial. O hiperconsumo da fase áurea do Cruzado não tem paralelo nos dias de hoje.
Como será, então, a cara de um Real 2 -se ele existir? Tanzi fala que os problemas "são conhecidos" e que "é preciso ter a vontade política para fazer". Em 86, dias depois do Cruzado 2, Brasília viveu o então maior protesto contra um governo, com depredações e incêndios. E agora? O que será?


Endereço da página: