Folha de S. Paulo


A banalidade do erro

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgados com erro foram imediatamente retificados. Um erro banal, disse a presidente.

Errar é humano. Não fosse um relatório mal feito, a presidente não teria cometido o erro de aprovar Pasadena. Certamente algum outro erro a fez esquecer-se de demitir o funcionário responsável.

Pior são os erros conscientes, como a contabilidade criativa do governo. Mascara dados e cria uma realidade paralela, mas ninguém assume. Ao contrário, as estatísticas são divulgadas como se verdadeiras fossem. Não está adiantando muito; os números para o superávit primário teimam em continuar encolhendo.

Há os feitos com convicção, como na energia. O controle de preços desvalorizou as empresas, inviabilizou o etanol, endividou a Petrobras, esvaziou reservatórios, aumentou a emissão de CO2 e desequilibrou o setor elétrico todo.

Temos também os lapsos de linguagem. Em entrevista, já como candidata, a presidente disse que a inflação era zero. Sem querer, confundiu o resultado de um mês com o índice anual. Mas não se deu ao trabalho de corrigir. O número certo não era bom, melhor deixar para lá. Vai ver ninguém percebeu.

Há os erros de previsão. Aqui o ministro Mantega é campeão. Começou o ano prometendo um crescimento do PIB acima de 2%, mas deve terminar com 0,3%, de acordo com previsões do mercado. Não é tão grave porque esse oráculo ninguém mais ouve.

Há também os de avaliação de riscos. O BNDES recebeu mais de R$ 400 bilhões da União. Errou nos empréstimos concedidos, obrigando um refinanciamento com o Tesouro de cerca de metade desse volume por mais 46 anos, comprometendo gerações. Esse não é banal.

Os erros de fiscalização não são desprezíveis; permitiram que 3.649 operações de câmbio fictícias enviassem R$ 1 bilhão para o exterior entre 2008 e março passado. Dá mais de duas operações dessas por dia e ninguém viu. Agora só resta correr atrás do prejuízo.

Esses erros não ocorreram por acaso. A subordinação política vai minando a credibilidade de instituições antes respeitadas. E cresce a demanda para protegê-las por lei. Não se trata mais só da autonomia do Banco Central, mas das agências reguladoras, dos órgãos de pesquisa, das empresas estatais e dos bancos públicos, todos opacos nas suas decisões e resultados.

Para esse governo a culpa é sempre dos outros. Da seca à China, tudo é justificativa para o mau desempenho da economia, para os malfeitos e desperdícios.

Erros acontecem. Mas quando se tornam sistêmicos mostram um problema maior. Para corrigir erros é preciso reconhecê-los. Essa talvez seja a maior dificuldade. Afinal são apenas "aumentinhos", bobeadas, cochilos, ou escorregadas. Banalidades.


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