Folha de S. Paulo


Sem rancor

Há pouco mais de 20 anos o Brasil convivia com uma hiperinflação e o impeachment de um presidente. Era difícil ser otimista. Passadas duas décadas, o país é outro. O divisor de águas foi o Plano Real. Sem ele, e a estabilização econômica que se seguiu, as políticas de inclusão social não teriam terreno fértil para prosperarem nos anos seguintes.

A continuidade que Lula deu às políticas do FHC foi fundamental para que o país hoje possa se orgulhar dos ganhos na área social e sonhar com um salto de qualidade nas políticas públicas.

Infelizmente nos anos mais recentes, os erros na condução da economia e o isolacionismo da presidente estão colocando em risco as melhorias obtidas tão duramente. Dilma é nossa Alice, no País das Maravilhas. Se recusa a reconhecer os erros do presente, abusa da mentira nas estatísticas e inviabiliza um debate sobre o futuro.

Sua campanha tem sido marcada por uma obsessão em disputar legados e desconstruir os avanços do governo tucano. Com isso, tenta aprisionar e limitar as propostas da oposição a uma mera discussão numérica: quilômetros, leitos, creches etc.

O apego a uma agenda eleitoral populista e ultrapassada me surpreende, especialmente após os movimentos de 2013. Até parece que foi só por causa de 20 centavos. Os grandes temas que afligem o eleitor –saúde, educação, segurança, mobilidade– não vêm encontrando muito espaço. Melhor seria uma discussão menos quantitativa e mais qualitativa. Não basta universalizar serviços, mas garantir igualdade no acesso e boa prestação.

A agenda que o candidato do PV colocou no debate da Band repercutiu bem. Trouxe temas sempre evitados: a reforma política e o aborto sob perspectiva da saúde pública.

Por enquanto, o novo está simbolizado em Marina, apesar da candidata participar da política há décadas. O que é bom. Ela vem surfando na onda na terceira via aproveitando o cansaço de todos com o Fla-Flu eleitoral que vivemos. Pode conseguir deslocar o foco da campanha e melhorar o nível das discussões.

A polarização partidária não é o problema, mas, sim, o discurso raivoso que o PT tem imposto ao debate político nos últimos anos.

O novo para mim é a aceitação do diferente. Escrevo como eleitora, não sou analista política e meu voto não é segredo. Sou filiada ao PSDB, mas não só por isso acho Aécio o melhor candidato. Tem meu voto pelo programa que apresenta, sua capacidade de gestão e sua equipe. E por falar do futuro de forma concreta, sem platitudes e escapismos.

O atual protagonismo de Marina é muito bem-vindo. Ela acaba de lançar seu programa de governo. Nas próximas semanas teremos a oportunidade de discutir ideias e sua implementação. Sem rancor.


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