Folha de S. Paulo


Carro elétrico encara dilemas como rede de recarga e elitização da frota

Tobias Schwarz/AFP Photo
Ossada suspeita de ser de João Leonardo da Silva Rocha, morto na ditadura militar, é exumada em Palmas do Monte Alto (BA)
O Honda Urban EV, apresentado no Salão de Frankfurt

Perto de chegarem às ruas em larga escala, as feições dos carros movidos a eletricidade começam a mudar. Os protótipos de linhas futuristas vão sendo substituídos por modelos que remetem ao passado.

O Honda Urban EV apresentado nesta semana no Salão de Frankfurt lembra o primeiro Civic, lançado em 1973. Na Volkswagen, o iD Buzz traz a velha Kombi à memória.

Apelar ao emocional é estratégia antiga de conquista. As marcas sabem que a mobilidade elétrica é o único caminho possível para o automóvel, seja autônomo, compartilhável ou de uso privado. É a certeza em meio a tantas dúvidas.

Em paralelo, questões como quão limpos serão os novos automóveis despertam discussões que consideram toda a cadeia de energia. Ainda não há solução definitiva para o descarte das baterias nem estrutura urbana de recarga tão eficiente quanto postos de gasolina.

Tudo isso leva a outro problema: até que exista um volume grande o suficiente de veículos elétricos em circulação, até mesmo com opções entre os carros usados, esses modelos estarão restritos aos mais ricos.

Vejamos o caso do Brasil: automóveis tornaram-se mais acessíveis com o surgimento dos populares, acompanhados de prazos camaradas de financiamento. Pessoas que nem sequer sonhavam em ter um zero-quilômetro adquiriram seus 1.0 –e, por vezes, entraram em dívidas que não puderam quitar.

Quando os elétricos chegarem com força –o que deve levar ao menos uma década para ocorrer no Brasil–, os carros com motor a combustão serão empurrados para consumidores que não poderão comprar um modelo politicamente correto com preço para lá de R$ 60 mil.

Prevejo um momento curioso: jovens que se desinteressaram por veículos deverão ter o desejo reavivado. Um modelo que não polui é um grande gadget, que recupera a funcionalidade e o status do passado.

Já os carros poluentes serão, por um bom tempo, a alternativa para quem enfrenta deslocamentos longos diariamente e sonha não ter que viajar por três horas de pé em um ônibus a caminho do trabalho.


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