Folha de S. Paulo


Como dizer ao consumidor brasileiro que tamanho não é mais documento?

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Nova geração do Volkswagen Polo nacional em versão pré-série
Nova geração do Volkswagen Polo nacional em versão pré-série

Ostentar um garboso logotipo "2.0" na traseira de um sedã de porte médio era símbolo de status nos anos 1980 e 1990. Na Chevrolet, o Monza trazia o número, que representa o volume do motor em litros, em grafismo parrudo.

Na Volkswagen, o tamanho da máquina chegou a ser traduzido em um extenso "2000i", que indicava ainda a presença do sistema de injeção eletrônica. A medida estava em centímetros cúbicos.

Esses números perderam importância nos dias de hoje, com a evolução imposta por legislações ambientais cada vez mais rígidas e necessárias. Na longa transição entre gasolina e eletricidade, o turbo substitui os litros em busca de reduzir o consumo de combustível e as emissões de poluentes e CO‚.

Os alemães da Volks vão longe nessa estratégia com o motor 1.0 turbo do novo Polo. São 128 cv de potência, ou 30 cv a mais que o oferecido pelos 2.0 de décadas atrás.

Em uma volta rápida por pista fechada, o motor "mil" dos tempos modernos derruba qualquer preconceito. O carro mostra-se ágil, sempre disposto a retomar velocidade e sem exagerar no consumo.

Mas há um problema: como dizer ao consumidor brasileiro que tamanho não é mais documento?

Para o departamento de marketing, colocar o logotipo "1.0 Turbo" na traseira soa ruim: o cliente acostumado a ostentar o 2.0 pode achar demérito, e opções turbinadas ainda causam desconfiança em um público mais conservador.

Na Volkswagen, a solução será destacar o torque disponível, aquela força que faz um automóvel subir uma ladeira sem sufoco ou partir ligeiro quando o sinal passa do vermelho para o verde.

Nesse caso, o 1.0 do Polo vai se transformar em 200.

O departamento de engenharia da montadora alemã explica que o número se refere ao torque disponível pelo motor turbo, em Nm (newton-metro). Agora imagine aquele vizinho gabola, que no passado enchia o peito para dizer que seu carro tinha motor 2.0, tentando entender essa nova matemática.

Os engenheiros estão contentes -eles nunca engoliram as nomenclaturas usuais no Brasil. Já o pessoal da publicidade terá muito trabalho pela frente, que vai ser útil também no futuro. Quando a eletricidade vencer seus dilemas e assumir de vez a função de movimentar os carros, não existirá mais 1.0, 1.6 ou qualquer outra litragem.


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