Folha de S. Paulo


Asfalto não é coisa de elite despreocupada com meio ambiente

Marcus Leoni/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 02.11.16 11H Sinalizacao em zigue-zague, desviando de buracos, na rua Diogo Botelho, 02, na zona leste de SP(Foto: Marcus Leoni / Folhapress, COTIDIANO - EXCLUSIVO)
Sinalização em zigue-zague, desviando de buracos, na zona leste de São Paulo

Cones brancos e laranjas espalham-se por ruas de todas as regiões da cidade de São Paulo. Sinalizam buracos que aguardam alguns baldes de asfalto, solução paliativa diante de anos de pouca atenção às vias públicas.
É como se a principal medida para reduzir o trânsito de carros particulares seja impedir que circulem por meio da deterioração do piso por onde passam.

A questão não envolve apenas automóveis com suas rodas trincadas e pneus furados, mas, principalmente, pessoas. Se a pista estiver em mau estado, sofrem os que usam transporte público, bicicletas, táxis, carros de aplicativo ou particulares. A viagem segue aos sacolejos.

Asfalto não serve só ao carrão do bacana, não é coisa de elite despreocupada com o meio ambiente. Cada buraco mal remendado traz um risco potencial de acidente, seja pelo impacto direto ou pela manobra brusca ao tentar desviar.

A falta de manutenção retarda o futuro: como sonhar com veículos que andam sozinhos em supervias conectadas se são raros os trechos livres de imperfeições?

Imagine o automóvel autônomo seguindo sua rota sem desrespeitar as leis de trânsito, mas colidindo violentamente contra as bordas de crateras espalhadas pela cidade. Modelos assim serão inviáveis.

A Prefeitura de São Paulo divulgou recentemente as metas do programa Asfalto Novo. A promessa é recapear 23 vias de grande fluxo, com recursos vindos da iniciativa privada e de multas.

O plano é essencial para a cidade, mas deveria ter sido aplicado antes da mudança nos limites de velocidade nas marginais. Correr mais sobre pistas inseguras não é uma solução para o trânsito.

Desestimular o uso do automóvel em grandes centros urbanos é questão vital, que deve ser seguida por alternativas de transporte mais inteligentes e menos poluentes.

Contudo, deixar a manutenção das vias em segundo plano mostra a falta de inteligência de tantas gestões do trânsito, focadas em atos políticos desconectados da cidade e de seus habitantes.


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