Folha de S. Paulo


Tecnologia ultrapassa os carros

Quando o primeiro iPhone chegou ao mercado, em 2007, o que havia de mais moderno em tecnologia multimídia para carros eram entradas USB e pequenas telas digitais, monocromáticas. Conexão Bluetooth era um recurso caro que começava a chegar a carros de entrada por meio de equipamentos opcionais.

Dez anos após seu lançamento, o smartphone da Apple já passou por uma dúzia de evoluções significativas. No mesmo ano, o conceito que deu origem ao BMW X6 e o Fiat 500 foram apresentados no Salão do Automóvel de Frankfurt. Ambos são basicamente os mesmos até hoje.

A diferença temporal ajuda a entender o que ocorre na indústria automotiva atualmente. As montadoras não conseguem mais acompanhar os avanços tecnológicos, tampouco serem ágeis para atender aos desejos do público. Quando uma tendência é detectada, o tempo necessário para incorporá-la aos veículos é longo demais.

Entre o início do desenvolvimento de um carro e sua chegada às ruas, são necessários cerca de cinco anos. É preciso resolver questões de segurança, absorção de impactos, distribuição de pesos entre os eixos, manutenção básica, emissões, gadgets. As demandas legais e os desejos do público são pontos fundamentais para o sucesso.

Para que o projeto se pague e gere lucro expressivo, vão mais uns seis anos de vendas até que o ciclo de produto se complete.

Enquanto isso, se for preciso mudar algo em seu smartphone, o usuário baixa uma atualização on-line e resolve o problema.

Pneus não são regenerados por meio de um aplicativo, e um carro não se transporta no bolso. É ele que carrega o dono, o que envolve um extenso rol de responsabilidades.

Antes, um carro conceito anunciava um futuro que poderia ou não se realizar e enchia os olhos de usuários em mostras internacionais. Hoje, protótipos tentam exibir um amontoado de soluções já existentes (mobilidade elétrica, sistemas autônomos), mas custosas para serem postas em prática.

Quando finalmente chegarem ao asfalto, pode ser que o público esteja de olho em outra coisa.


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