Folha de S. Paulo


Montadoras têm de prever futuro que transpassa pessimismo e incertezas

O engenheiro alemão quer saber para que servem as antenas instaladas em motocicletas que rodam pelo Brasil. O interlocutor se esforça para explicar o que são pipa, linha e cerol, combinação que causa acidentes graves em rodovias que cruzam os Estados do Rio e de São Paulo.

Mais fácil deve ter sido convencer a matriz europeia da necessidade de fazer um motor originalmente a gasolina queimar também etanol, mesmo que o volume de vendas no país seja pequeno para justificar um investimento dessa monta.

Esses temas foram assuntos nos departamentos de engenharia da BMW aqui e lá fora. A marca, que produz motocicletas e carros por essas bandas, é uma das que mais gastam tempo e dinheiro para entender as nuances de um mercado que adernou após anos de bonança.

Outros recém-chegados sofrem com questões semelhantes. Quem não estava aqui quando a indústria automotiva começou a tomar corpo, há 60 anos, sofre para entender o jeitinho brasileiro de lidar com regras, investimentos e contratos.

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Primeiro carro produzido na fábrica da BMW em Araquari - Santa Catarina ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Primeiro carro produzido na fábrica da BMW em Araquari (SC)

Imagine o que passou pela cabeça dos ingleses da Jaguar Land Rover a cada vez que as regras de conteúdo local e importação passaram por mudanças desde que a empresa decidiu investir R$ 750 milhões para montar seus automóveis de luxo em Itatiaia (RJ).

O caso da BMW é mais crítico. Além dos carros feitos em Araquari (SC), a empresa acaba de inaugurar uma nova linha de produção de motos, na Zona Franca de Manaus.

Se fossem olhar para os números atuais, os alemães aportariam seus euros em lugares onde as motocicletas não precisam de antenas para proteger o pescoço dos pilotos.

Entre janeiro e setembro deste ano, as vendas das superbikes da BMW caíram 37,6% no Brasil em relação ao mesmo período de 2015. Entre os carros, há queda de 22%.

Entretanto, grandes fabricantes precisam olhar para um futuro que transpassa o pessimismo reinante e as incertezas políticas. É quase uma profissão de fé, pois não se trata de enxergar a luz no fim do túnel. O segredo é encontrar a lâmpada apagada lá adiante e acendê-la.


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