Folha de S. Paulo


Hora de repensar a segurança

Em maio, quando o compacto indiano Renault Kwid obteve péssimo resultado em testes de colisão, a fabricante se apressou em divulgar um comunicado no Brasil -no final deste ano, o carro começará a ser feito no país.

O texto afirmava que a versão nacional "atenderá a legislação brasileira em termos de segurança, trazendo de série equipamentos como freios com ABS e airbags".

De fato, o carro testado de acordo com os padrões do Global NCAP (organização internacional que avalia a segurança dos veículos) não trazia itens que são obrigatórios no Brasil. Mas apenas isso não bastaria para garantir padrões elevados de proteção.

Atender a legislação brasileira significa possuir itens obrigatórios que estão muito abaixo do disponível em mercados da Europa e nos Estados Unidos.

Até a combinação de aços utilizados em muitos dos carros novos nacionais oferece resistência estrutural inferior à de modelos equivalentes vendidos em outros países.

O engenheiro Jessé Paegle, diretor da JWP Engineering & Consulting, afirma que o país já produz tecnologia e materiais necessários para garantir células de sobrevivência mais seguras e leves, que ajudam a reduzir o consumo de combustível. A questão é quanto as montadoras estão dispostas a gastar sem serem "motivadas" por exigência legal.

O mercado retraído dos dias atuais anula investimentos, mas nem por isso as fabricantes de carros deixaram de acelerar o desenvolvimento de carros mais econômicos, de olho nos benefícios tributários. Entre erros e acertos, esse é um dos pontos positivos do programa Inovar-Auto, que, espera-se, ganhará uma nova fase a partir de 2017.

Essa segunda etapa não seria o momento oportuno para repensar a segurança dos automóveis no Brasil, promovendo novas discussões sobre as regras?

Nossos motores estão se igualando aos disponíveis no mercado europeu, com a vantagem da tecnologia flex. Mas ainda falta um bom volume de carros nacionais com nota máxima em proteção para os seus ocupantes.


Endereço da página: