Folha de S. Paulo


O impeachment e a indústria

Não será estranho se o próximo ano registrar um grande avanço nas vendas e na produção de veículos. Os patamares atuais estão baixos a ponto de qualquer marola gerar crescimento percentual de dois dígitos, e as mudanças políticas são quase um tsunami.

Em 1993, primeiro ano completo do governo Itamar, as vendas no mercado interno cresceram 48% na comparação com 1992, ano do impeachment de Fernando Collor.

Além dos ventos de mudança, houve um estímulo: a redução de impostos sobre carros 1.0, medida que baixou o preço ao consumidor e consolidou o segmento dos veículos populares. Na outra ponta, os importados também foram beneficiados com diminuição de tributos.

A maré favorável para o setor perpetuou-se em 1994 com o Plano Real. A bonança se estendeu por mais três anos, até que a crise dos países asiáticos fez o barco quase virar.

O período pós-impeachment foi marcado por seguidas mudanças no ministério da Fazenda, mas a suposta calmaria política elevou a confiança. A sensação de estabilidade tornou-se palpável com a nova moeda, e a coisa começou a andar.

Naquela virada de poder, o setor automotivo absorveu as idas e vindas de ministros e taxas. O Brasil já era um mercado em forte expansão, valia o investimento. Além disso, a vida não era fácil em outros países. Nos Estados Unidos, a General Motors engolia o maior prejuízo da história, afogada por gastos gerados pelo seu fundo de aposentaria.

Não será preciso estabelecer uma nova moeda no país, o que facilita as coisas. Contudo, a queda nas vendas e na confiança é tão grande que um simples rearranjo de tributos será pouco para gerar um ciclo duradouro de crescimento.

A reação de curto prazo deve ocorrer, mas o clamor do setor automotivo é unânime: fabricantes locais e importadores pedem previsibilidade para agir no longo prazo, algo que faltou nos anos 1990 e continua escasso agora.


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