Folha de S. Paulo


Carros e gadgets

Lembram dos pagers? Foi uma febre pré-celular que saracoteava para lá e para cá. Os aparelhinhos estavam por toda a parte, presos a cintos ou dentro de pochetes, esses símbolos do mau gosto nos anos 1990.

Lembram do Chevrolet Corsa? O carro fez um sucesso tremendo nos tempos do pager.

Diferentemente daquele recebedor de mensagens -que foi engolido pela evolução tecnológica-, o "corsinha" continua por aí, vendido zerinho. Hoje atende pelo nome de Chevrolet Classic. Outros tantos, mais velhos, continuam a rodar.

Os exemplos mostram que há uma barreira temporal a separar carros e gadgets. Um pager de 1996 não tem mais função alguma, suas centrais de atendimento sequer existem. Os carros tem vida longa, não se reinventam a cada ano.

Ao unir um e outro, há conflito. O motorista reclama que o som do seu carro feito em 2014 não reconhece o smartphone modelo 2016. O intervalo de dois anos equivale a uma geração inteira no Vale do Silício.

Carros que chegam às ruas hoje começaram a nascer em 2010 ou, no máximo, 2011. Nesse período, o celular que você carrega no bolso ou na bolsa já passou por pelo menos três mudanças significativas.

Ao mesmo tempo, não é possível transformar um automóvel com pouco uso em uma máquina futurista. São sistemas tecnológicos incompatíveis: um veículo normal não poderá ser adaptado para rodar com eletricidade e de forma autônoma.

Será preciso fazer uma renovação de frota tão extensa que seu ciclo será contado em décadas. E para continuarem durando como hoje, os carros do amanhã terão de ter uma plataforma aberta, que permita constantes atualizações.

Esse é o nó da evolução. Há recursos mil que possibilitam conectar automóveis a estradas e a outros veículos, reduzindo a quase zero o risco de acidentes. Essas ferramentas evoluem na velocidade da luz, mas os "corsinhas" de hoje em dia mal passam dos 120 km/h.


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