Folha de S. Paulo


Ícones do futuro

Pense em uma Ferrari de rua ou em um Rolls-Royce produzido há alguns pares de décadas. Imagine esse carro zero-quilômetro saindo da concessionária, independentemente do ano, do país, do regime político.

Agora tente visualizar o mesmo automóvel hoje, em perfeito estado, dobrando uma esquina qualquer. Não se preocupe em construir a imagem fiel à realidade, pois basta a silhueta, mesmo que alegórica.

O que conta é o significado, as reações causadas ao redor. O aço de um carro emblemático não se dobra à forja do tempo, e isso ajuda a entender o que representa a indústria automotiva e do que ela precisa para se reinventar.

Ao projetar um futuro tão distante quanto o passado da Ferrari ou do RR imaginados, quais carros atuais preservarão esse êxtase?

O momento atual é comparável aos primeiros passos do setor automotivo, quando havia dúvidas se o carro iria se sobrepor ao cavalo.

Hoje, como na virada dos séculos 19 e 20, sabe-se que há uma revolução em andamento, protagonizada por energias limpas e veículos autônomos. E a pergunta é a mesma: essas alternativas suplantarão o que conhecemos hoje como mobilidade?

A resposta óbvia é sim, com as devidas correções que transformam a temida revolução na palatável evolução. E quais serão os novos ícones, os automóveis que se perpetuarão pela história e arrancarão suspiros pelo estado de arte?

Acredito que, nessa nova configuração, tais carros ainda não existem. Por ser o ápice atual de desempenho conciliado à eficiência energética, o Porsche 918 tem alguma chance, bem como a Ferrari FF. Porém, eles são objetos de transição.

A consolidação virá na próxima geração de automóveis, já plenamente adaptados aos novos tempos e fundamentais à sobrevivência do negócio. Sem ícones, a indústria automotiva perde o poder de transcender à engenharia e encantar até os que não ligam para coisas que se movem sobre rodas.


Endereço da página: