Folha de S. Paulo


O pesadelo da Volks

A Volkswagen vive seu pesadelo kafkiano. A montadora dormiu na liderança global de vendas e acordou metamorfoseada em um bicho estranho que emite fumaça negra.

Seu prejuízo com a fraude dos softwares que burlavam os limites de emissões de motores a diesel já é contado de bilhão em bilhão de dólares. No entanto, não é esse seu maior problema, pois dinheiro há.

A questão principal é recuperar a credibilidade diante do mundo e fazer os 11 milhões de clientes que possuem um carro adulterado acreditarem nas boas intenções da fabricante. A marca ensaia desculpas em muxoxos envergonhados, mas será preciso muito mais que isso.

O destino foi cruel com a fabricante; a manobra foi descoberta no momento em que o grupo começa a deixar de lado os investimentos nos veículos a diesel. O próximo passo concilia pequenos motores a gasolina, turbos e eletrificação.

A retomada da imagem será especialmente difícil nos EUA, onde a VW jamais foi uma potência. Seus carros de origem alemã não figuram entre os 30 mais vendidos naquele país, dominado por utilitários ianques e sedãs japoneses.

Boa parte dos clientes compraram seus Golfs ou Jettas atraídos pela massiva campanha em prol do meio ambiente promovida pela empresa. A Volkswagen vinha fazendo disso uma bandeira e conquistando compradores que se sentiam bem por terem um veículo menos agressivo ao planeta.

O dano na Europa também será grande, pois os mercados da zona do euro já veem nos índices de emissões de poluentes um ponto a ser considerado na hora de adquirir um automóvel novo.

A empresa alemã agora busca palavras e ações para mostrar que o discurso expressado nos slogans em prol do uso de carros mais eficientes não se trata de marketing vazio. E também torce, em silêncio, para que outras fabricantes sejam flagradas em adulterações semelhantes, para diluir as atenções.


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