Folha de S. Paulo


O carro e o Google

Há encantamento em tudo o que envolve o carro autônomo desenvolvido pelo Google. Há tempos um veículo não gerava tanta expectativa.

Mas será que o gigante do Vale do Silício investirá em uma linha de montagem para colocar seu automóvel sem motorista na rua? Arriscará sozinho seu patrimônio virtual produzindo algo tátil, que envolve investimento de bilhões, operários, fornecedores? Pouco provável.

Unir forças é regra da indústria automotiva, com casamentos improváveis como o dos grupos Chrysler e Fiat e ou a aliança Renault-Nissan.

Acordos ainda mais vultosos estão a caminho, com o objetivo de reduzir custos de produção. Disso depende a sobrevivência do setor, pois a tecnologia envolvida na construção dos carros modernos aumenta a complexidade e o custo.

Na Califórnia, o Google produz a tecnologia que é consumida em gadgets de diferentes marcas. Não é missão da empresa montar telefones ou computadores, mas, sim, fornecer funcionalidades para esses equipamentos.

O usuário não se sente um cliente por usar o buscador ou o Gmail, mas a relação com o carro, autônomo ou não, será diferente. Há outras exigências e muito dinheiro envolvido, seja na compra ou no compartilhamento mediante pagamento.

Se o veículo for barato, será necessário conquistar as massas para ter volume e justificar o investimento.

"Ah, mas o carrinho tem sucesso garantido", dirá algum entusiasta. Vale lembrar que pensava-se o mesmo do Tata Nano, o compacto indiano que surgiu para ser o mais barato do mundo, mas não fez sucesso nem mesmo no seu país. Isso mostra que há um ambiente cinzento entre as pesquisas que apontam a total aprovação de um produto e seu efetivo sucesso no mercado.

Com certeza, o Google sabe de todas essas questões e, caso resolva produzir seu carro - e não apenas fornecer sua tecnologia a outras montadoras -, irá recorrer à receita do momento: buscar um parceiro para tocar a produção.


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