Folha de S. Paulo


As regras do jogo

A LEGISLAÇÃO que envolve a compra e a venda de carros muda de acordo com o movimento do mercado. A mais recente alteração envolve as regras para transferência de veículos.

As revendas estão livres de uma etapa burocrática que elevava os custos das operações. Automóveis que entrarem na troca por outro não precisarão mais ser registrados em nome do concessionário ou da loja.

O setor de usados comemora, o que é raro. Vendedores de carros têm a lamúria por ofício, sempre saudosos dos tempos de glória.

Nos anos 1980, a hiperinflação consolidou um mercado paralelo. Modelos novos eram faturados pelas concessionárias e precisavam ser rapidamente distribuídos para lojas independentes. Carro parado representava perdas imediatas.

Na "boca", como é chamado esse comércio fora das autorizadas, havia o ágio. Ávido por obter um bem que, em tese, ajudaria a preservar seu dinheiro (a inflação fazia o valor do carro subir dia após dia), os clientes aceitavam o sobrepreço.

O problema tornou-se evidente com a estabilização da moeda, pois os zero-quilômetro continuavam sendo repassados para lojistas independentes. As redes faturavam veículos aos lotes direto para o mercado paralelo, ganhando no volume.

Os carros mais desejados continuavam a carregar um pesado ágio. Um bom exemplo é a primeira geração do Chevrolet Corsa, que tinha fila de espera nas autorizadas, mas estava disponível à pronta entrega no quarteirão ao lado. Os valores eram 30% maiores que o sugerido pela fabricante, ou até mais.

Daí vieram as tabelas de retorno, que inflavam os juros em tempos de crédito fácil e inflação controlada.

A maré virou com a restrição das financeiras, e os revendedores passaram a contar centavos.

Difícil prever o próximo movimento, mas espera-se um equilíbrio. As regras precisam melhorar as negociações não só para quem vende, mas também para quem compra.


Endereço da página: