Folha de S. Paulo


Mães, filhas e carros

Respondi a mesma pergunta a duas mães em um intervalo de três ou quatro semanas: "Qual carro devo comprar para a minha filha?".

A primeira mãe nem sequer tinha carteira de habilitação e nunca se importou em utilizar táxis ou transporte público no dia a dia. Já sua caçula não via a hora de ter um automóvel para chamar de seu, vermelho de preferência, e usá-lo para ir à faculdade e ao estágio.

A segunda mãe dirige desde a adolescência (confessou que já dava uns passeios antes de obter licença para guiar) e, hoje, tem um utilitário esportivo de luxo. Sua menina sempre andou de carona e não manifestava interesse em possuir automóvel próprio.

A realidade começou a mudar com os horários apertados e os deslocamentos cada vez mais distantes em seu início de carreira profissional -de casa para o trabalho, do trabalho para a pós-graduação.

Respondi às questões e sugeri modelos que se encaixavam no perfil das futuras motoristas. Como era esperado, a mãe que jamais dirigiu cedeu à ansiedade da caçula e foi a primeira a comprar o carro -um compacto vermelho, é claro.

A segunda ainda não fez sua escolha e age sem pressão. Sua filha não tem exigências sobre modelo ou cor, quer apenas que tenha ar-condicionado, sistema de som com bluetooth e "volante levinho".

O fato mais interessante é que, apesar dessas mães e filhas terem relações completamente diferentes com o automóvel, as descrições dos veículos desejados são basicamente as mesmas. A nova dona de um compacto vermelho também fazia questão de ar refrigerado, direção leve e um rádio moderno.

As escolhas parecem óbvias para uma geração que não endeusa automóveis, mas, por diferentes motivos, ainda os vê como parte do cotidiano. As montadoras fazem de tudo para agradar a esse público mundo afora, mas parece que as ambições motorizadas dessa juventude são mais frugais do que se imagina.


Endereço da página: