A neve de janeiro é apenas lembrança na Detroit de verão. Faz calor, e as partes da cidade que já foram recuperadas dão vigor à capital mundial do automóvel.
Entretanto, ao fundo, a área deteriorada da cidade ainda está presente na paisagem.
Essa transição entre construções decadentes e novas áreas nobres com lojinhas de produtos orgânicos e ateliês é análoga ao momento atual da indústria automotiva nos Estados Unidos.
O que antes da quebradeira das montadoras, há cerca de seis anos, limitava-se a ações mais voltadas para o marketing, hoje assume o protagonismo: motores com turbo (menos poluentes), tecnologia híbrida e eletrificação.
Produtos assim estão em destaque no simpósio que a GM realizou na última semana. Esse foi o motivo para voltar a Detroit no verão.
A renovação mira o futuro. São como as lojinhas e os ateliês modernos, dão frescor à indústria. Mas as áreas desgastadas estão no entorno, na forma de produtos cuja vida foi esticada devido à falta de grana para investir, com motores ultrapassados e carrocerias pesadas.
Por anos, as grandes montadoras americanas disfarçaram seus problemas. Produtos vetustos eram vendidos sob a justificativa de serem os preferidos do público, embora os asiáticos conquistassem cada vez mais espaço.
Esse movimento não vem de agora. A luz vermelha acendeu quando os sedãs japoneses subiram ao topo de vendas no início dos anos 1990, e de lá não saíram mais. Os americanos mantiveram a dianteira no segmento de picapes, menos afeito a mudanças, e tentaram alternativas de pouco sucesso, como a criação da marca Saturn (GM), que nasceu e morreu no intervalo de duas décadas.
Com a retomada do mercado nos EUA, o discurso mudou. Novidades florescem e, nos próximos anos, irão cobrir de modernidade a antiga escola automotiva norte-americana.