Folha de S. Paulo


Falsa estabilidade

"Levamos um soco na barriga enquanto estávamos decolando", disse Sérgio Habib durante a apresentação do utilitário esportivo JAC T6, há duas semanas.

Habilidoso com palavras e números, o empresário relembrava as agruras pelas quais tem passado desde a implementação da sobretaxa aos veículos importados, em setembro de 2011.

Até então, a marca chinesa ia bem em vendas: 2.600 unidades do JAC J3 (hatch e sedã) haviam sido emplacadas em agosto daquele ano. No mesmo mês de 2012, apenas 1.070 compactos foram licenciados.

O incentivo à produção local dava um ar nobre à elevação tributária. Mais carros feitos aqui, mais empregos gerados.

Porém, os anos seguintes revelaram as fragilidades da economia e da indústria automotiva.

Ao mesmo tempo em que novas fábricas começam a produzir, a demanda por veículos novos recua. Surgem vagas em algumas linhas de montagem, perde-se um tanto em outras. O mesmo ocorre com os fornecedores, mantendo um equilíbrio estatístico sombrio.

Os empregos que florescem ao redor da novíssima fábrica do grupo Fiat Chrysler em Goiana (PE) ou na unidade da Nissan em Resende (RJ) "compensam" os postos cortados no Grande ABC. Em uma visão geral do setor, enxerga-se uma falsa estabilidade.

Se há novas unidades de produção, há também novos carros que, quando fazem sucesso, roubam clientes da concorrência.

Como as vendas estão em declínio, quem perde consumidores precisa reduzir a produção para não elevar seus estoques. Aí vêm férias coletivas, encerramento de turnos e programas de demissão.
Ou seja, o equilíbrio só existe na frieza dos números.

Nesse cenário, o alardeado plano de incentivo à produção nacional pode virar um plano de resgate de regiões cujo desemprego na indústria torna-se uma ameaça real.


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