Folha de S. Paulo


Demissão, o velho fantasma

Em maio de 2012, quando o então ministro Guido Mantega anunciou mais uma redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) ao setor automotivo, o governo fez uma exigência. Em troca do tributo menor, o nível de empregos nas montadoras deveria ser mantido.

Desde então, mês após mês, a Anfavea (associação nacional das montadoras) vem destacando o volume de funcionários em suas afiliadas. Eram 145 mil naquele maio de 2012, número que foi crescendo até meados de 2013.

Depois vieram os ajustes por meio de cortes ou de planos de demissão voluntária (PDV).

Em dezembro de 2014, havia 144,6 mil empregados nas fabricantes de veículos. Considerando que houve um empate técnico, a indústria automotiva cumpriu sua parte no acordo e manteve o patamar de postos de trabalho.

É uma conta pueril, pois ocorreram enormes levas de demissões entre as fornecedoras de peças e também nas redes distribuidoras. A cadeia completa envolve mais de 200 mil empresas.

Contudo, pelo peso global de suas marcas centenárias e o histórico de lutas sindicais no Brasil nos últimos 30 e tantos anos, são as montadoras as maiores vitrines.

Mas em um momento em que o verbo "investir" foi substituído pelo "ajustar", os sindicatos andam temerosos. A redução do IPI terminou, levando consigo a promessa de manutenção de empregos.

Outros postos de trabalho começam a surgir em cidades que recebem novas montadoras, mas polos produtores há décadas consolidados (ABC e Vale do Paraíba, por exemplo) tentam driblar a crise com paradas na produção e PDVs.

Lá estão os salários mais altos nas linhas de montagem do país. Nessa hora, o verbo "ajustar" causa calafrios, e não só pelo uivo do velho fantasma das demissões. Quando voltar o tempo de investir, novos trabalhadores ocuparão as vagas hoje ociosas, ganhando menos.


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