Folha de S. Paulo


Saltos e sobressaltos

A indústria automotiva dos Estados Unidos começa a implementar agora mudanças cujos primeiros passos foram dados há cinco ou seis anos.

E, hoje, inicia-se o caminho em direção ao que eles terão em 2021, já antevendo o que será feito para aumentar a eficiência de veículos que, por enquanto, não passam de esboços no papel ou em uma tela de computador.

Essa ideia de que o futuro chega rápido é percebida no Salão de Detroit. Os projetos e as metas podem parecer distantes, mas estão logo ali, na esquina do tempo.

No Brasil, o plano de incentivo ao avanço tecnológico e à produção local foi visto, revisto e aprovado em cerca de 18 meses.

Sua próxima etapa deve ser implementada no segundo semestre de 2017, mas ainda não há sinal do que virá por aí.

Por não haver um estudo robusto sobre o problema, abriram-se brechas aos efeitos colaterais. Produzir localmente significa gerar empregos, mas não houve atenção a todas as etapas do processo.

Centrado no mercado interno, o setor automotivo brasileiro ainda não encontrou saída diante da impossibilidade de exportar para grandes mercados e, assim, contornar problemas como a queda nas vendas e a crise argentina. Agora reage mal, com ameaças de demissões motivadas pela queda de produção.

Protegeu-se tanto a indústria local que a competitividade global se perdeu no caminho.

Mudanças no acordo com o México, aguardadas para março, poderão reduzir o peso da blindagem do mercado nacional e abrir possibilidades. Contudo, não irão contornar a falta crônica de planejamento.

Há algo de errado quando um projeto de vulto é implementado em menos de dois anos e, embora o prazo esteja mantido, sua segunda fase ainda não tenha gerado diálogo entre governo e montadoras.

A indústria tem andado aos saltos, ou melhor, aos sobressaltos.


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