Folha de S. Paulo


Status

"Quero um carro mais 'primeiro mundo', um produto melhor", disse-me um amigo enquanto expunha os planos que fazia para comprar um importado usado.

Estávamos no início dos anos 2000, e as marcas de luxo que conquistaram corações na década anterior já estavam disponíveis a preços baixos e quilometragens altas nas lojas. As palavras exatas já fugiram da memória, mas o teor do papo permanece.

Ele falava e eu o estimulava a continuar. Que tal câmbio automático? Os americanos não vivem sem um. Airbags, bancos de couro, um luxo só. Procuraremos bem, ouviremos mecânicos. A missão é achar um carro chique a preço de popular.

A conversa seguia nesses termos; um carro mais isso, mais aquilo. Com mais status. Epa, mencionei a palavra proibida.

"Status não é importante", disse o amigo. E tantos outros na mesma situação diriam o mesmo. Ostentar a estrela ou as argolas não faz diferença, o que importa é o carro em si, não é mesmo? Claro que não.

Se não fosse pelo desejo humano de mostrar superioridade por habilidades e apetrechos, carros não teriam logotipos expondo suas versões e motorizações, e as picapes médias não ostentariam adesivos "Off-Road 4X4" nas laterais de suas caçambas vazias.

Mas é feio admitir que se liga para o status. Dos tantos que já me pediram ajuda para escolher um carro, não me lembro de nenhum que tenha citado o desejo de parecer mais esperto, belo ou rico com seu novo veículo.

Escrevo isso já imaginando as perguntas que virão quando Mercedes, BMW, Audi, Land Rover e Jaguar estiverem produzindo a todo vapor no Brasil e brigando por clientes que hoje compram carros topo de linha das marcas generalistas.

"Ficaram tão bons como os importados? São melhores que os modelos X, Y ou Z?." Sim, são melhores, mais rápidos, mais luxuosos, mais caros. E têm mais status.


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