Folha de S. Paulo


A utopia do carro global

É POSSÍVEL produzir um carro de apelo popular realmente global? Voltemos a 2008 para tentar responder a essa pergunta, usando a Toyota como exemplo.

Naquele ano, engenheiros da empresa japonesa davam os retoques finais em um novo compacto para mercados em expansão. O projeto estava pronto, mas a bolha imobiliária explodiu nos EUA e iniciou-se a crise global.

Quase três anos depois, o veículo é finalmente lançado, na Índia. Seu nome: Etios.

Os japoneses definem que o compacto será vendido em diferentes países sem modificações visuais, inclusive no Brasil. Os executivos daqui queriam um novo projeto, mais adequado às percepções do consumidor local.

Eles sabiam que teriam dificuldades para transformar o Etios em um sucesso, pois a simplicidade de suas linhas destoava da imagem que a Toyota havia construído no país.

Desde o lançamento, há dois anos, o carro passou por diferentes campanhas de marketing, mudou por dentro e conquistou espaço graças à qualidade construtiva. Porém, permanece distante dos números de venda sonhados pela fabricante.

Agora, a Toyota trabalha em ritmo acelerado para lançar um compacto completamente renovado em meados de 2016. Os japoneses estão ouvindo mais o que os executivos brasileiros têm a dizer.

Será um hatch de estirpe europeia, como o Aygo? Certamente não, pois o porte diminuto desse modelo o afasta de possíveis compradores em países onde seria, provavelmente, o único carro da casa.

Vale ressaltar que o mercado norte-americano nem entra nos planos do futuro compacto, pois os menores Toyotas disponíveis por lá fazem parte da linha Scion, voltada para o público jovem. São moderninhos demais para ganhar o planeta.

Ou seja: a resposta para a pergunta inicial é não. As diferenças entre países, culturas, renda e hábitos de consumo não permitem que um carro do segmento de entrada seja bem aceito em todos os cantos do mundo sem adaptações. Nem o Volkswagen Fusca chegou a tanto.


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