Folha de S. Paulo


Noventa minutos

Pegar um carro e rodar por uma São Paulo fantasma durante 90 minutos. A experiência não era original -foi explorada recentemente em um comercial da Citroën-, mas pareceu interessante, coisa de filme pós-apocalíptico. O único empecilho era a realidade.

Deixei a garagem da Folha às 15h55, minutos antes do pontapé inicial de Brasil X México. Imaginei encontrar ruas desertas e sinais abrindo e fechando sem carros ou pedestres para cruzá-los.

O que achei foi uma avenida 23 de Maio abarrotada de veículos e motoristas impacientes, que naquele momento ouviam os primeiros minutos do jogo pelo rádio.

E antes fosse somente pelo rádio. A tecnologia levou televisões para dentro dos carros em celulares, aparelhos de GPS e sistemas multimídia que exibem imagens mesmo com o automóvel em movimento.

Agora, aquele motorista que mal sabe posicionar-se dentro da faixa de rolagem pode conduzir 1.000 quilos de lata a 80 km/h enquanto acompanha a Seleção.

Chego à Moema (zona sul de São Paulo) perto do intervalo do primeiro para o segundo tempo. O trânsito flui um pouco melhor, e resolvo seguir até a marginal Pinheiros.

No meio do caminho, um Jeep Cherokee prateado invade minha pista e quase causa um acidente. A jovem ao volante estava olhando um mapa no celular, que segurava com a mão direita. Procurava uma rota menos congestionada para chegar a qualquer lugar, e quase não chega a lugar algum.

Dirijo até a marginal Tietê, onde finalmente encontro aquilo que imaginei ser o tema dessa coluna: uma avenida vazia, com um ou dois carros alheios ao Brasil X México. O segundo tempo já começou.

Rodo mais um pouco e retorno à região central de São Paulo. Bares cheios, ruas vazias, cinco minutos para o jogo terminar. Talvez a experiência tivesse dado melhor resultado na Copa de 1950, quando havia menos carro nas ruas.


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