Folha de S. Paulo


O carro e a moda

sapatos estilo Oxford, aqueles com pequenas perfurações e emendas aparentes no couro, estão em todas as vitrines.

O modelo original surgiu há, pelo menos, uns 300 anos. Desde então, passou por releituras e também foi esquecido. Contudo, nos últimos dois ou três anos, virou tendência. Movimentos semelhantes acontecem no universo automotivo.

O momento é dos utilitários compactos de apelo urbano. O segmento, que nasceu com o Ford EcoSport em 2003, vive uma intensa onda de lançamentos pelo mundo. A Honda apresentou o Vezel e, em breve, a Hyundai terá sua opção. Ambos serão produzidos no Brasil.

Há também o Peugeot 2008 e o Renault Captur. E, ainda neste ano, a Volkswagen apresentará a versão definitiva do Taigun.

Até a Toyota, célebre por jipões parrudos como o Land Cruiser, terá seu pequeno aventureiro. Todos são (ou serão) compactos e espaçosos, com detalhes plásticos inúteis, porém estilosos, espalhados pela carroceria. Serão como o fecho dourado de uma bolsa de grife.

Em um passado recente, andar na moda automotiva era ter um carro pequeno moderninho. Antes, houve a era dos modelos médios, hatches ou sedãs. Todos refletem uma época e, vistos à distância, ajudam a contar a história da humanidade.

Assim como ocorre no mundo fashion, períodos de fartura ou de crise influenciam os lançamentos. Na década seguinte à Segunda Guerra, por exemplo, as fabricantes europeias usaram a criatividade para desenvolver carros compactos, baratos e racionais para um continente em reconstrução. Nos EUA, o otimismo desses mesmos anos estimulava a criação de veículos grandiosos.

Da mesma forma que o sapato Oxford em seus tempos de ostracismo, os carros de segmentos em baixa continuam sendo lançados e renovados, pois os gostos, as necessidades e os bolsos são variados. As peruas esquecidas de hoje podem ser os objetos do desejo de amanhã.


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