Folha de S. Paulo


Duas rodas que movem o mundo

A fila que dava a volta no pavilhão do Anhembi era mais democrática do que qualquer outra ao redor das novas arenas do futebol brasileiro. Ali estavam desde senhores grisalhos que chegaram em motocicletas reluzentes até motoboys que escaparam do trampo para encontrar seus objetos de desejo.

Esse era o cenário do primeiro dia do Salão Duas Rodas, uma terça-feira de sol tímido na capital paulista. O evento termina hoje (13).

Alimento um amor platônico por motocicletas. Vejo esses veículos como algo inatingível, pertencentes a um mundo de equilíbrio do qual não faço parte. Minha visita ao salão foi com olhos de criança diante do brinquedo que jamais terá, uma mistura de admiração e frustração.

Eis que chega o público. O pai puxa o filho pelo braço e aponta para uma nova Honda. Solta o menino e passa a fazer gestos que simulam o enroscar do manete. Parece que recorda de uma moto que já teve, ou então conta histórias de aventuras. O homem deve ter seus 40 anos. O filho, não mais que 12.

O senhor que puxa a mala de couro marrom usa um grande relógio no pulso, mas não está preocupado com a hora. Para diante de modelos Harley-Davidson e observa-os detalhadamente. Não fala nada nem dá atenção às modelos que sorriem ao lado das motos.

Ainda é um universo masculino, apesar de cada vez mais mulheres aderirem às bikes motorizadas. A BMW ainda colocou alguns rapazes para apresentar suas motocicletas, mas são as moças de vestidos curtos ou embaladas a vácuo em macacões sintéticos que dominam os estandes.

Os motoboys estão em seu território. As motos do cotidiano são vistas com olhar sério, mas são as superesportivas que despertam suas paixões. E tome foto com o celular ao lado das Ducati Panigale e das poderosas MV Agusta.

Estão todos lá, envolvidos com seus sonhos de metal. Para eles, o mundo se move sobre duas rodas.


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