Folha de S. Paulo


Adaptados aos buracos

Uma frase tornou-se clichê na avaliação de automóveis: "A suspensão absorve bem as irregularidades do piso". Tento de todas as formas evitá-la, mas ela retorna como um mantra a cada vez que testo um novo carro por nossas ruas.

Jamais encontrei tal expressão em avaliações publicadas em jornais e revistas dos Estados Unidos, onde sobram automóveis e faltam buracos. Ou melhor, eles não fazem a menor falta.

No Brasil, carro robusto é aquele que passa pelos remendos e depressões do asfalto sem que a cabine emita "rangidos de dor". Para que isso seja possível, os fabricantes precisam adaptar seus projetos originais de suspensão.

A alternativa mais usada é elevar a altura da carroceria por meio de um componente de borracha instalado sobre a torre do amortecedor. Parece algo complexo, mas é como um calço colocado sob o pé de uma mesa.

A peça serve também para absorver os impactos contra os buracos e diminuir os barulhos a bordo. Por outro lado, pode interferir na estabilidade do automóvel.
Mesmo com soluções como essa, a melhor maneira de não sofrer com os buracos é tentar evitá-los. Para isso, o motorista precisa reduzir a velocidade ao se deparar com um e tentar desviar, com atenção para não atropelar um motociclista ou bater em outro veículo.

Essa manobra exige uma nova acelerada para retomar a velocidade, o que aumenta o consumo de combustível e a poluição. E, ao reduzir a velocidade do carro para transpor o obstáculo, haverá reflexo no fluxo de trânsito.

Milhares de carros, milhares de buracos, lentidão nas ruas e mais fumaça. Os problemas dos remendos precários vão além de uma bolha no pneu.

Talvez fosse melhor que a suspensão não absorvesse bem as irregularidades. Assim seria preciso adaptar as ruas às características dos carros, e não o contrário.


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