Folha de S. Paulo


Terrorismo no sertão

SÃO PAULO - As recentes eleições brasileiras acumulam um vasto cardápio de episódios vergonhosos. Considero o mais covarde deles o clima de terror alastrado em comunidades pobres do país sobre o suposto fim de programas sociais.

Estimulados pela própria presidente Dilma, segundo a qual "podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição", simpatizantes petistas lançaram boatos aos beneficiados pelo Bolsa Família. Com megafones ou de porta em porta, repetiam que, se os tucanos chegassem ao poder, o programa que atende 14 milhões de famílias seria extinto.

É tudo boato, mas quem o espalha sabe muito bem que isso pega como rastilho de pólvora em periferias e comunidades rurais. Famílias que dependem desse recurso para comprar arroz e feijão entram em desespero e, na dúvida, não arriscam na hora de votar, em uma espécie de novo cabresto eleitoral.

Abordo esse tema para lembrá-los de como a nossa política é dinâmica.

Na semana passada, o governo do PT colocou na praça uma proposta de reforma da Previdência que propõe mexer com a aposentadoria rural. Comparado a esse rojão, boatos sobre o fim do Bolsa Família se transformam em um simples estalinho.

Essa aposentadoria funciona assim: quem trabalhou em sua terra, mas nunca contribuiu com a Previdência, pode se aposentar aos 60 anos (homens) e 55 anos (mulheres).

É comum esse sertanejo sustentar filhos e netos com a aposentadoria equivalente a um salário mínimo mensal (R$ 880). Nessas casas, o valor médio de R$ 167 do Bolsa Família vira um complemento de renda. Além disso, em diferentes distritos, a aposentadoria não serve apenas como proteção contra a miséria, mas ajuda a manter o comércio local.

Por isso, antes de dar o próximo passo, a equipe econômica de Dilma poderia dar um giro pelo semiárido e pensar em outras formas para conter o rombo previdenciário do país.


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