Folha de S. Paulo


Fantasma de Kandir ronda reforma da Previdência

Reprodução/"The Wall Street Journal"
Em reportagem sobre riscos para Reforma da Previdência, foto de protesto na avenida Paulista
Protesto na avenida Paulista, no centro de São Paulo, contra a reforma da Previdência e a terceirização

BRASÍLIA - Um outdoor em uma das principais vias de Brasília traz o rosto de um parlamentar. Embaixo, a frase: o voto deste deputado pode acabar com a sua aposentadoria.

A campanha contrária à reforma da Previdência avança sobre grande parte dos brasileiros, seja ela feita com verdades ou mentiras. E gera pânico entre parlamentares que precisam de qualquer maneira renovar seu mandato para manter o privilégio do foro em tempos de Lava Jato.

São quatro meses de campanha contrária desde a apresentação da proposta do governo Michel Temer. São piadas, notícias falsas e releases de categorias indignadas porque correm o risco de não se aposentar com salário integral muito superior ao teto do INSS (R$ 5.531).

Uma dessas mensagens diz que Joãozinho, o personagem das piadas de antigamente, se vê diante da morte e faz um último pedido: trabalhar no Brasil até se aposentar, desejo que lhe garante mais de 100 anos de vida. Exageros como esse se disseminam diariamente. Os vídeos da campanha oficial ninguém compartilha.

Será difícil explicar que já existe idade mínima no Brasil, que ela já é de 65 anos para homens e que é nessa regra que se encaixam dois terços dos brasileiros que se aposentam?

Mais complicado afirmar que essas mesmas pessoas terão de contribuir por 25 anos (e não 15 como hoje).

A tática de transformar a proposta de reforma em uma espécie de PEC do Fim dos Dias, com uma série de exageros (que o governo chama de gordura), dos quais o presidente Michel Temer vem abrindo mão, tem se mostrado um equívoco.

A reforma se tornou impopular. Parlamentares da base ameaçam votar contra. Temer se apressa em fazer concessões e coloca na rua uma nova campanha.

Em 1998, a idade mínima caiu por um voto da base, do ex-deputado Antonio Kandir (PSDB-SP), que errou ao digitar "abstenção" e não corrigiu o voto. Temer, que presidia a Câmara na época, sabe como são esses erros.


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