Folha de S. Paulo


COI decide sobre Rússia enquanto espera pela Coreia do Norte

Fabrice Coffrini/REUTERS
International Olympic Committee (IOC) President Thomas Bach looks on at the opening of an Olympic Summit on reforming the anti-doping system on October 8, 2016 in Lausanne. REUTERS/Fabrice Coffrini/Pool ORG XMIT: FAB290
O presidente do COI, o alemão Thomas Bach, em evento na sede da entidade, em Lausanne

Os debates envolvendo a Rússia –pelos escândalos de doping– e a Coreia do Norte –indecisão sobre competir ou não em país inimigo– tomam a pauta do movimento olímpico internacional nesta reta final para os Jogos Olímpicos de Inverno, previstos para PyeongChang, na Coreia do Sul.

O polêmico caso da Rússia, encurralada por denúncias de doping com participação estatal, que provocaram indignação e revolta na comunidade esportiva mundial, deve ter um desfecho nesta terça (5) em relação ao evento na Coreia do Sul.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) finalmente anunciará o veto ou a liberação da participação da Rússia na Olimpíada de Inverno. É um momento delicado, levando-se em conta a relevância dos russos, em especial nos esportes, e os flagrantes das patifarias do uso ilegal e criminoso de doping.

Parece mais provável a hipótese de uma liberação para que atletas russos atuem em PyeongChang, mas sob bandeira independente, por exemplo, a do COI. Dessa forma, a Rússia continua sob punição e a autoridade do COI e da Wada (Agência Mundial Antidoping) não é arranhada.

Além disso, os atletas que nunca tiveram registro de envolvimento com doping não ficam prejudicados. Por ora, parece ser o mais indicado. Se tal ocorrer, como será a reação da Rússia? Aceita ou parte para nova peleja?

A resposta é aguardada com ansiedade por todos os esportistas. O COI, antes da Olimpíada do Rio, eximiu-se de tomar decisão sobre o mesmo problema com os russos e delegou o posicionamento final às federações internacionais de cada modalidade. Apenas a federação de atletismo manteve os russos afastados da competição.

Certamente, nos bastidores, cartolas e políticos russos buscam contrapartidas para amenizar a desconfortável situação. A tática é amarrar acordos para garantir que o impedimento seja levantado em futuras competições. A próxima Olimpíada de Verão será em Tóquio-2020. O castigo até agora foi doloroso o suficiente e deixou claro que esse tipo de crime não compensa.

Já a situação da Coreia do Norte é bem específica, pois depende apenas da cúpula política do próprio país. A participação dos norte-coreanos em grandes eventos internacionais costuma ser discreta, sem resultados de grande expressão.

Na última Olimpíada de Inverno, em Sochi, não tinha atleta classificado nem recebeu convite especial dos russos, os organizadores. Ganhou apenas duas medalhas de prata em Jogos na neve: uma em Innsbruck-1964, na Áustria, e outra em Albertville-1992, na França.

É mais competitiva em Olimpíada de Verão, como no Rio, em 2016, quando ganhou sete medalhas, das quais duas de ouro.

Para os Jogos no vizinho, os norte-coreanos têm uma dupla de patinadores classificada –Ryom Tae-Ok e Kim Ju-sik–, que só precisa confirmar a inscrição. Acontece que as relações entre os dois países impede uma decisão antecipada por conta de disputas permanentes entre ambos na política e nas relações internacionais.

A rigor, em 1950, a Guerra das Coreias terminou em armistício, ou seja, sem vencedora, numa trégua que se alonga até o momento. Por isso, as rusgas são constantes. Recentemente, soldados do norte atiraram e atingiram um companheiro que fugia para o sul pela zona desmilitarizada da fronteira. O incidente provocou muita tensão.

Não é a primeira vez que as Coreias enfrentam esse tipo de dilema no esporte. Em 1988, os norte-coreanos não participaram da Olimpíada de Verão, em Seul.

Apesar desses desacertos, a Coreia do Sul tem acenado para que a Coreia do Norte envie atletas para as competições em PyeongChang. Como garantia de que essa manifestação é para valer, as autoridades afirmam que esperarão até o último momento.

Talvez a decisão venha mesmo dentro desse quadro. As inscrições estão abertas até 29 de janeiro. Os Jogos têm início em 9 de fevereiro, sendo que são esperadas inscrições de representantes de mais de 90 países, um recorde.

O líder norte-coreano, Kim Jong-un, por sua vez, concentra-se na sua política de incentivo a programas nuclear e de mísseis balísticos, e em provocar rivais.

Esporte é movimento pela paz, pelo qual ele não parece interessado. Talvez uma folga o faça olhar para outro lado, solucionando o mero impasse olímpico, dando um passo na reconciliação das Coreias.


Endereço da página:

Links no texto: