Folha de S. Paulo


Basquete do Brasil terá de passar por um longo calvário para ir ao Mundial

A seleção brasileira masculina de basquete inicia nesta semana uma difícil escalada rumo ao Mundial da modalidade. É uma incógnita se vai chegar na Copa da China, em 2019. O caminho das eliminatórias está repleto de novidades.

O sistema de classificação mudou, alongando-se agora por um período de cerca de um ano e meio. Em contrapartida, o número de vagas aumentou de 24 para 32 times.

As eliminatórias passam a ter "datas Fiba" e estão começando. O Brasil joga contra o Chile nesta sexta (24), em Santiago, e contra a Venezuela, dia 27, no Rio. Outras rodadas foram programadas para fevereiro, junho, setembro e novembro de 2018 e fevereiro de 2019.

Classificam-se, além da China por ser a sede, cinco países da África, sete das Américas, sete da Ásia e 12 da Europa. O Mundial chinês foi atrasado em um ano para evitar a concorrência da Copa do Mundo de Futebol. Depois da China retoma o ciclo de disputas a cada quatro anos.

O Brasil inicialmente ficou fora do último Mundial, em 2014, e só acabou incluído na competição ao pagar por um convite da Fiba (Federação Internacional de Basquete). A oferta de vaga mediante pagamento era oficial e anunciada antecipadamente para que interessados se manifestassem.

A CBB (Confederação Brasileira de Basquete) não perdeu tempo, ganhou a disputa na boca do caixa. Afinal, não queria ver o Brasil alijado do Mundial pela primeira vez na história do evento. Divide essa glória com os EUA, como os únicos participantes de todos os campeonatos desde o inaugural da série em 1950, na Argentina.

Nessa caminhada arrebatou dois títulos de campeão (em 1959 e 1962), duas medalhas de prata (1954 e 1970) e duas outras de bronze (1967 e 1978). Projetou-se também na Olimpíada, com medalhas de bronze em Londres-1948, Roma-1960 e Tóquio-1964.

Foi a época de pouco dinheiro e muito prestígio internacional, que perdurou pelo menos por outras duas décadas. Depois despencou feio. Nos Mundiais não foi mais o mesmo e chegou a ficar fora de três Olimpíadas consecutivas (Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008).

Criou boas expectativas ao retornar aos Jogos Olímpicos, em Londres-2012, quando terminou em quinto. A seguir, uma queda brusca e o vexame com a inédita compra da vaga, mesmo tendo terminado a competição em sexto.

Aquele gasto foi insuportável para a CBB que já enfrentava caótica situação financeira, gerada por péssimas administrações da entidade.

Também tropeçou na tentativa de ficar com uma das vagas da Olimpíada-2016, só assegurada posteriormente pela condição de país-sede. Nos Jogos do Rio, não passou da primeira fase.

Nesse cenário, sem prestígio na quadra, em situação financeira delicada e ainda devendo a compra da vaga, a fragilidade ficou evidente. A Fiba, defendendo seus interesses, interveio. Suspendeu o basquete brasileiro, que ficou impedido de participar de eventos da entidade.

Ainda enrolada na falta de recursos, mas sob nova direção (o ex-jogador e hoje empresário Guy Peixoto assumiu a presidência), a CBB tenta dar a volta por cima. A situação, porém, continua crítica.

Nas Américas, as eliminatórias contam com 16 seleções, divididas em quatro grupos. Os três melhores de cada grupo seguem na disputa, reagrupados em duas chaves, que classificam para o Mundial os três primeiros de cada uma delas, mais o melhor quarto colocado. Nas demais regiões, o sistema é semelhante.

Esse novo modelo foi idealizado pela Fiba sob a alegação de colocar as seleções nacionais mais perto de seus torcedores, com jogos de ida e volta. O objetivo real é popularizar o esporte.

Essa expansão, no entanto, nunca testada no basquete, tem coincidência de datas com disputas locais. Por isso as seleções jogarão desfalcadas. Atletas da NBA, a poderosa liga profissional da América do Norte, estão fora no momento. Vários da Euroliga foram convocados, mas barrados pelos clubes.

O projeto encontra barreiras neste início de sua implantação. As seleções devem disputar parte das eliminatórias com um time. Só em etapas decisivas e na Copa chamarão os reforços? É um impasse complicado.

O Brasil, que até a Olimpíada do Rio era dirigido pelo argentino Rubén Magnano, há um mês passou a ser comandado pelo croata Aleksandar Petrovic –ex-armador de 1979 a 1991–, treinador há 26 anos e que esteve à frente das seleções da Croácia e da Bósnia e Herzegovina. Ele é irmão de Drazen Petrovic, astro do basquete europeu e da NBA, morto num acidente de carro em 1993.

Anderson Varejão é destaque do time, que tem ainda Vítor Benite, Fulvio de Assis, Yago dos Santos, Alex Garcia, Antonio Jr., Leonardo Meindl, Jhonatan Luz, Lucas Silva, Rafael Hettsheimeir e Lucas Mariano.

O calvário para o Mundial ficou mais longo. E garantir uma vaga na China representará apenas o primeiro de muitos passos que o basquete brasileiro precisa para recuperar seu prestígio. Do jeito que está não pode ficar. Haja paciência!


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