Folha de S. Paulo


Protagonista de escândalo planeja Olimpíada outra vez

Salt Lake City, a cidade dos Estados Unidos marcada por má fama por ter sido escolhida para sede da Olimpíada de Inverno de 2002, em processo seletivo com corrupção e compra de votos, ensaia uma volta por cima.

A cartolagem daquele país trabalha numa possível proposta para abrigar novamente naquela cidade os Jogos de Inverno, segundo a mídia internacional. A viabilidade ou não do projeto deve ser anunciada em 1º de fevereiro próximo. Além de Salt Lake City, duas outras praças dos EUA têm interesse: Denver e Reno.

Promoções olímpicas parecem do agrado dos norte-americanos, que serão os organizadores dos Jogos de Verão em Los Angeles-2028. Antes, abrigaram os eventos em Saint Louis-1904, Los Angeles-1984 e Atlanta-1996, mais as Olimpíadas de Inverno de Lake Placid (em 1932 e em 1980), Squaw Valley-1960 e Salt Lake City-2002.

A manifestação de intenções com tal finalidade não é garantia de certeza absoluta. Pode ser apenas fogo de palha, algo intenso que logo passa. A corrida para 2026 foi aberta há pouco tempo e o seu desfecho ocorrerá dentro de dois anos.

Outras cidades com chances de entrarem na disputa são Estocolmo (Suécia), Sion (Suíça), Calgary (Canadá), Sapporo (Japão), organizadora da competição em 1972, e Almaty (Cazaquistão), superada por Pequim no último concurso.

As próximas sedes da Olimpíada de Inverno estão definidas: PyeongChang, na Coreia do Sul, em fevereiro do ano que vem, e Pequim, em 2022. Tóquio-2020 promove a de Verão.

Os norte-americanos querem mesmo o evento de 2030, não o de 2026. Por quê? Não seria interessante lutar por uma competição de Inverno que acontecerá pouco tempo antes da de Verão, que está consolidada.

Em contrapartida, o lançamento da candidatura para o primeiro evento deixa a proposta viva para o caso de ocorrer situação semelhante ao da Olimpíada de Verão, quando a falta de outros concorrentes, mais o alto nível das únicas candidatas para os Jogos, motivaram o COI a designar numa tacada duas sedes consecutivas, que ficaram com Paris-2024 e Los Angeles-2028.

Mesmo com a redução das exigências para as candidaturas adotadas pelo COI, potenciais centros recuam, principalmente pelo temor de dificuldades econômicas. Foi assim com Innsbruck, na Áustria, cuja população optou pelo "não" aos Jogos de 2026, em votação recente, embora a cidade tenha a experiência das Olimpíadas de Inverno de 1964 e de 1976, que organizou.

A iniciativa dos norte-americanos em relação a Salt Lake City coincide com o pior momento da história do movimento olímpico brasileiro. Na verdade, são situações que espelham vexames equivalentes. Como aquela cidade na escolha da sede de 2002, o Brasil está atolado em denúncias de compra de votos no pleito que apontou o Rio como sede dos Jogos de 2016.

É o maior escândalo no setor desde o caso de Salt Lake City, que resultou na punição a uma dezena cartolas do COI e de outro tanto fora dele. E o movimento olímpico internacional, pelo jeito, não vai sair tão cedo de constrangimentos dessa natureza.

Suspeita-se também de corrupção na escolha de Tóquio como sede dos Jogos. A denúncia foi feita pelo jornal inglês "Guardian' há mais de um ano e não se tocou mais no assunto. A expectativa é que tema volte ao debate com a aproximação das disputas no Japão.

Carlos Arthur Nuzman, nas presidências do Comitê Olímpico do Brasil havia 22 anos e do comitê organizador dos Jogos, chegou a ser preso, e depois solto, suspeito de ter ligações com a tramoia da compra de votos. Sem clima para seguir naqueles cargos, abdicou dos mesmos, concentrando-se na sua defesa.

Abriu-se espaço para uma reformulação na estrutura do esporte olímpico no país. É um trabalho difícil, levando-se em conta o conservadorismo instalado e o jogo de interesses. A oportunidade, no entanto, está colocada. Será aproveitada?


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