Folha de S. Paulo


Na urna, cidade austríaca é mais uma a rejeitar Olimpíada

Michal Cizek - 3.jan.2016/AFP
Johann Andre Forfang of Norway competes during the Four Hills competition (Vierschanzentournee) of the FIS Ski Jumping World Cup in Innsbruck on January 3, 2016. Peter Prevc of Slovenia won the event ahead of Germany's Severin Freund of and Kenneth Gangnes of Norway. / AFP / Michal Cizek
Campeonato de salto de ski na cidade de Innsbruck, capital do Tirol, na Áustria

A cidade de Innsbruck, capital do Tirol, na Áustria, acaba de anunciar que está fora da disputa pela sede da Olimpíada de Inverno de 2026, contrariando movimento anterior nesse sentido. Foi uma decisão dos habitantes da região do Tirol, apurada no voto.

Na atualidade, bancar grandes eventos esportivos internacionais é tarefa temerosa. Assusta a população da localidade interessada. Por isso, a opinião dos moradores é necessária e fundamental. Afinal, o dinheiro público banca as contas.

Recentemente, iniciativas de outras cidades em concursos olímpicos também acabaram rejeitadas após consultas populares, casos de Budapeste e Hamburgo. Outras avaliam o poder da concorrência e desistem durante o processo de candidatura, como Saint Moritz, Roma, Oslo e Estocolmo.

Será que o Rio teria concorrido à sede dos Jogos de 2016 se a população tivesse sido consultada? Na época da escolha, no final de 2009, a euforia era grande, as denúncias de corrupção mais amenas do que as de agora e a situação econômica um pouco menos frágil.

Creio que a resposta seria um "sim", ainda mais com um Mundial de futebol despontando no horizonte. Nem sequer se imaginava também a inesperada trombada, o vexame diante da Alemanha naquela Copa, embora este tenha sido um episódio meramente esportivo.

O clima do país hoje é outro. Crise econômica, corrupção e escândalos na política abundam. Copa e Olimpíada seriam derrubadas. Mas quem teria uma bola de cristal lá atrás para antecipar a roubalheira? Talvez só os próprios corruptos e corruptores. Será?

No plano olímpico, a suspeita da compra de votos provocou a prisão de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil e da organização dos Jogos, e aponta o envolvimento do governo Sérgio Cabral (PMDB) e de membros do COI. O Brasil virou um péssimo exemplo para o mundo.

Improvável que o escândalo perpetrado pela candidatura brasileira em Copenhague não tenha servido como uma pontinha de alerta para o moradores de Innsbruck, dos quais 53,65% se posicionaram contra a intenção de bancar o evento. Votos enviados pelos correio ainda serão apurados, mas não vão interferir no resultado.

Os Jogos Olímpicos, tanto os de Verão como os de Inverno, atingiram uma espantosa escalada de crescimento. É o chamado gigantismo dos Jogos, fenômeno observado principalmente nas últimas três décadas, que assusta e afugenta possíveis candidaturas para a promoção do evento.

O temor cresce proporcionalmente às demandas econômicas, altíssimas. Além disso, como descartar as chances de corrupção, que provocam arrepios nos habitantes das sedes? É risco insuportável, que não vale a pena correr. Como entrar numa disputa na qual uma candidatura rival pode comprar votos?

Destacar a tradição esportiva de Innsbruck mostra curiosidades. A cidade, de pouco mais de 120 mil habitantes, já abrigou duas Olimpíadas de Inverno (1964 e 1976), promoveu quatro Mundiais de luge e outro de bobsleigh e os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude de 2012.

Nada disso influi na motivação da população. A cidade já havia recusado uma nova candidatura olímpica em referendos organizados em 1993 e 1997.

A Olimpíada de Inverno tem suas próximas sedes definidas: Pyeongchang-2018, na Coreia do Sul, e Pequim-2022, na China.

Esta última será a primeira cidade da história a receber os Jogos de Verão e de Inverno. Façanha essa em menos de duas décadas, mesmo contra o posicionamento de ativistas pelos direitos humanos e ambientalistas, que pressionam os chineses. É uma mostra da fragilidade da concorrência.

Por isso, a definição de sedes para Olimpíadas de Verão consecutivas –Paris-2024 e Los Angeles-2028–, a cada dia, mostra o acerto da medida e deixa o Comitê Olímpico Internacional respirar mais aliviado.

Foi um lance de oportunismo do COI que garantiu dois palcos de primordial visibilidade para os Jogos, depois de Tóquio-2020.


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