Folha de S. Paulo


Troca de Emily por Vadão é passo para trás da CBF

Rafael Ribeiro/CBF
Vadão conversa com Poliana durante jogo da Copa América
Vadão retorna à seleção com patinada da confederação

Emily Lima, a primeira mulher a dirigir a seleção feminina principal de futebol do Brasil, foi demitida pela cúpula da confederação brasileira da modalidade. Uma situação estranha, pois ela sequer teve a chance de mostrar o resultado do seu trabalho numa competição oficial.

A CBF também patinou nos esclarecimentos para justificar a troca da treinadora pelo técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, profissional que ela havia substituído no comando da seleção, em novembro passado.

É uma política difícil de entender. O técnico havia sido descartado, ou seja, não servia mais, mas é chamado de volta para comandar a mesma seleção. E a técnica, que havia sido convocada para resolver o problema, acaba afastada sem um teste importante.

Uma confusão completa. O coordenador de futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, cuja função é dar respaldo para o bom andamento das atividades das equipes convocadas, teria agido apenas como um "fiel subordinado" do presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, o responsável pela demissão da Emily e pelo retorno de Vadão.

Del Nero é um dirigente complicado. Não sai do país, mesmo sendo a principal autoridade brasileira da área, talvez por temer (combinação pavorosa de letras!) possível prisão no exterior, como ocorreu com seu antecessor José Maria Marin, acusado de corrupção no futebol.

A postura de Del Nero é constrangedora para a defesa dos interesses do futebol nacional. Como o Brasil pode lutar por uma causa, qualquer que seja ela, com um dirigente que sequer comparece aos encontros da cartolagem no exterior? Entretanto, essa mesma criatura manda e desmanda nas seleções.

No caso do time masculino, a pressão geral era tão forte pelo nome de Tite, que ele não teve outra saída. O técnico foi confirmado e os resultados positivos respaldaram as opiniões que defendiam o treinador como o mais indicado para a seleção.

O futebol das mulheres, diferentemente, tem apelo bem menor do que o dos homens. Por isso a ação da cartolagem praticamente passa sem resistência, com raras críticas. No caso da Emily, um componente despontava em relevância: era a primeira mulher a dirigir o time feminino do Brasil.

Com o afastamento da técnica sem uma explicação convincente, desmorona também a expectativa de que a CBF havia encampado a proposta pela busca da igualdade de gêneros no futebol, espaço ocupado de forma predominante pelos homens.

Ex-jogadora, Emily atuou em equipes do Brasil e da Europa antes de virar treinadora. Nesta etapa inicial na seleção, ela buscava ajustes na equipe, sem preocupação com resultados. Sob seu comando, o time ganhou sete jogos, empatou um e perdeu cinco. O objetivo era o acerto para os torneios oficiais, como a Copa América-2018, que classificará para o Mundial-2019 e, a seguir, a Olimpíada de Tóquio-2020.

Vadão esteve no comando da seleção durante trinta meses em sua primeira passagem. O time foi eliminado nas oitavas do Mundial e ficou na quarta posição na Olimpíada do Rio. São resultados pouco expressivos para uma seleção que conquistou a prata olímpica duas vezes (2004 e 2008) e, no Mundial, um bronze, em 1999, e uma prata, em 2007.

A experiência de Vadão como treinador é extensa com equipes masculinas. Além do início de carreiras de jogadores como Rivaldo, Kaká e Júlio Batista, entre outros, ele orientou também Sport, Guarani, Ponte, Goiás, Bahia, Vitória, Atlético Paranaense e Mogi Mirim. Trabalhou ainda no Tokyo Verdy, do Japão.

Parecia que a CBF estava empenhada na oferta de melhores condições de trabalho e desenvolvimento das suas representações femininas, com mulheres participando do comando e das decisões. Esta é uma política que vem sendo incentivada no mundo dos esportes. Por isso, fica a sensação de que a entidade está dando um novo e gigantesco passo para trás.


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