Folha de S. Paulo


Incertezas do Pan-2019 deixam cartolas tensos

Martin Bernetti/AFP
View of the bay of Miraflores, in Lima, Peru, taken on March 23, 2013. Lima was named host city of the 2019 Pan-American Games. AFP PHOTO/MARTIN BERNETTI ORG XMIT: MBV088
Vista da baía de Miraflores, em Lima, cidade escolhida nesta sexta como sede do Pan de 2019

Os Jogos Pan-Americanos perderam um bocado da sua relevância nos últimos tempos. Apesar disso, a competição poliesportiva, que reúne cerca de quatro dezenas de representações de países das Américas e do Caribe, ainda manteve algum charme até sua edição mais recente, em Toronto-2015, no Canadá.

Em contrapartida, o próximo Pan, previsto para Lima, no Peru, de 26 de julho a 11 de agosto de 2019, está provocando calafrios nos cartolas, apreensivos com atrasos nas obras projetadas para o evento. A pedra fundamental da Vila dos Atletas, por exemplo, obra importante para o êxito dos Jogos, foi lançada apenas no início deste mês.

O presidente do comitê organizador, Carlos Neuhaus, por sua vez, garante que tudo estará pronto cinco meses antes da abertura. Histórias semelhantes são conhecidas e as consequências dramáticas de tais promessas também.

A situação de Lima é muito preocupante. Por bem pouco o projeto do Pan não acabou abortado em meados do primeiro semestre deste ano, quando o Peru enfrentou dificuldades por causa de estragos provocados por chuvas. Recursos públicos foram desviados para sanar danos da tragédia.

Diante desse quadro e com a Vila dos Atletas atrasada nesse nível (Lima assumiu o compromisso de realizar o Pan em 2013) fica mais complicada uma previsão da finalização das demais obras.

Os Jogos Pan-Americanos aconteceram pela primeira vez em 1951, em Buenos Aires, no pleno calor da Guerra Fria, uma disputa por zonas de influência na busca pela superioridade mundial entre Estados Unidos e a então União Soviética, após a Segunda Grande Guerra.

O Pan sempre esteve envolto em clima de confraternização, de festa e de intercâmbio cultural e esportivo. No plano exclusivo dos esportes, os norte-americanos reinam absolutos.

A competição, no entanto, cumpre um papel paralelo com suas disputas, o de testes para que os participantes avaliem o estágio da preparação de suas equipes e atletas com vistas aos Jogos Olímpicos, sempre realizados no ano seguinte.

Para grande parte das modalidades, esse é um objetivo de valor no Pan, mas existem exceções. Quando a agenda dos Jogos ameaça atrapalhar eventos esportivos internacionais de destaque, alguns esportes optam por testes nestas competições, que contam com as principais forças mundiais.

Outras disciplinas até se valem do Pan para dar oportunidade a atletas jovens. Além da vitrine, a competição oferece a experiência do convívio numa vila, com atletas de áreas distintas, como numa Olimpíada.

Embora todas essas facetas do Pan sejam levadas em conta pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), responsável pela formação da delegação nacional, os olhos da entidade estão sempre focados na Olimpíada, no caso, a de Tóquio-2020.

O Pan serve também como classificatório olímpico para algumas modalidades. No momento, essa questão aguarda manifestação das federações internacionais de cada esporte para saber quais provas serão seletivas olímpicas.

A Odepa vai pegar carona numa reunião da associação dos comitês olímpicos nacionais, em Praga, na República Tcheca, no início de novembro, para fechar as diretrizes do Pan. Lá estarão representantes de todas as federações esportivas internacionais e dos comitês pan-americanos.

Suspeito de envolvimento na Operação Unfair Play (Jogo Sujo), que investiga suposta propina na eleição do Rio como sede da Olimpíada-2016, a participação do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, no encontro de Praga é dúvida, no momento. Ele teve de entregar seus passaportes –brasileiro e russo– para as autoridades.

Os esportes nacionais enfrentam uma situação complicada, já que Marco Polo del Nero, presidente da CBF, não sai do país, temendo ser preso no exterior e Nuzman, sem documentação, está impedido de viajar.

Não bastasse a escalada na fuga de patrocinadores no pós-Olimpíada do Rio, o esporte do Brasil está acossado pelo constrangimento da ausência em tal situação de seus cabeças nos debates internacionais.


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