Folha de S. Paulo


Meninas do basquete continuam sem rumo para sair da crise

Danilo Verpa/Folhapress
Erika e Clarissa durante treino da seleção brasileira feminina de basquete
Erika e Clarissa durante treino da seleção brasileira feminina de basquete

Um ano depois do vexame na Olimpíada do Rio, a seleção feminina de basquete dá nova trombada na tentativa de garantir sua vaga no Mundial da modalidade, previsto para 2018, na Espanha. A chance foi desperdiçada na Copa América, encerrada domingo (13), em Buenos Aires, onde ganhou dois jogos e perdeu quatro.

Foi o carimbo que faltava para decretar o estado lamentável da modalidade no país. As derrotas aconteceram diante de rivais como Ilhas Virgens, Argentina e Porto Rico, historicamente presas fáceis das brasileiras, e Canadá, um pouco mais forte.

As três mais bem colocadas passaram: canadenses, argentinas e, pasmem, porto-riquenhas, que estarão no Mundial pela primeira vez.

O fracasso das brasileiras veio na contramão da sua história na modalidade, que registra apenas uma ausência em 17 Copas disputadas. Foi na edição de 1959, realizada na então União Soviética.

Depois a seleção nacional ganhou projeção com uma medalha de bronze no Mundial de 1971, em São Paulo, e um ouro, na Austrália, em 1994. Além disso, subiu ao pódio olímpico duas vezes: prata em Atlanta-1996 e bronze em Sydney-2000. Isso sem contar o favoritismo nas competições na América do Sul e o prestígio alcançado nos Jogos Pan-Americanos.

Com o currículo valorizado por todas essas campanhas, a seleção passou a ser respeitada mundialmente. Mas depois do auge das carreiras de algumas estrelas, especialmente de Paula e de Hortência, aos poucos voltou a cair.

Uma constatação ficou clara naquela etapa. A fase de glórias tinha as principais equipes concentradas no Estado de São Paulo, onde vários campeonatos anuais as colocavam frente a frente. A rivalidade incentivava as disputas, refletindo positivamente nos progressos tático, técnico, físico e psicológico das jogadoras.

Como ampliar esse quadro? Talvez provocando outros centros do país para que repetissem a fórmula exitosa, com aprimoramentos e, lógico, sob trabalho, incentivo e supervisão da CBB. Mas isso não aconteceu. Pior, a visão da cartolagem mudou o foco, permitindo o deslocamento de estrelas para outras regiões, política que resultou numa falsa expansão e naufragou.

Perdeu-se assim, aos poucos, o equilíbrio que motivava os confrontos. Coincidentemente, a ida de algumas das principais jogadoras para o exterior também contribuiu para reduzir a atração pela modalidade.

Além disso, esse declínio veio acompanhado principalmente pelo crescimento dos desmandos e pela incompetência administrativa da cartolagem da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) e das federações estaduais.

A crise alcançou patamares sem precedentes, deixando à míngua cofres que vinham sendo abastecidos com volumes crescentes de verbas públicas. O efeito danoso migrou também para o masculino.

Recentemente, dívidas e falta de consistência administrativa da CBB resultaram em suspensão da participação brasileira em eventos da Fiba, a federação internacional do esporte. Dia após dia, os reflexos dessa situação desenharam o caótico estado do basquete do Brasil, pressionado por dívidas e gestões sem rumo.

A vaca foi para o brejo, diz o ditado. Agora não adianta buscar um culpado pelo rumo que o animal tomou, mas sim uma maneira de resgatá-lo do atoleiro. É tarefa para uma ou duas décadas, com muita labuta e planejamento, quase impossível de ser realizada antes desse prazo.

A CBB tenta uma mudança radical em suas atividades. Elegeu recentemente Guy Peixoto, ex-jogador com passagem pela seleção nacional e empresário bem-sucedido em suas atividades.

A realidade, no entanto, não exige um mecenas, mas requer um líder objetivo, com ideias arejadas, assessores profissionais capacitados, além de cartolas com disposição e tempo para a labuta. Atributos há muito tempo em falta no mercado do basquete.


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